Ribeirinhos temem pelo futuro após tragédia que matou milhares de peixes no interior de SP
Com os pés descalços, Sebastiana dos Santos Moraes, 79, caminha em direção à sua casa, pelo chão de terra batida, às margens de um brejo. Apenas cerca de 100 m separam o rio Piracicaba da pequena residência construída com madeirites, lonas e telhas de zinco.
A aposentada não come proteína há mais de 20 dias. "O peixe era minha misturinha", conta, com um sorriso fraco no canto da boca e os olhos voltados para o chão.
Sebastiana e o marido, Antônio Moraes, 83, são figuras conhecidas na comunidade do bairro Tanquã, em Piracicaba (SP). O vilarejo rural fica a cerca de 60 km do centro da cidade, distante outros 157 km de São Paulo, e foi vítima do que é considerada a maior tragédia ambiental da história do rio Piracicaba.
Em 14 de julho, ao acordarem, as cerca de 200 pessoas que vivem no local se depararam com um tapete de peixes mortos que cobria um trecho de 6 km do curso d’água. Desde então, os moradores temem pelo futuro do lugar, que depende do rio.
As mortes decorreram de um extravasamento de melaço da Usina São José S.A. Açúcar e Álcool, situada às margens do ribeirão Tijuco Preto —afluente do rio Piracicaba— no município de Rio das Pedras.
No dia 7 de julho, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) identificou a contaminação que partiu de um dos tanques da empresa e desceu cerca de 80 km até o Tanquã, onde causou a morte de cem toneladas de peixes.
Doze dias depois, a Cetesb multou a São José em R$ 18 milhões. Em nota, a empresa nega a relação da tragédia ambiental com o extravasamento registrado em suas dependências e diz que vai recorrer da decisão.
A 💥️Folha esteve no Tanquã na última quinta-feira (25) e conversou com pescadores que se dizem desesperados ante a iminente falta de recursos para sustento de suas famílias.
"Eu sempre armei minha redinha ali para pegar meu peixinho, que era minha misturinha. Agora não estão deixando mais, né? Diz que vai ficar cinco anos assim, né?", questiona Sebastiana, sem saber de fato quando poderá voltar a pescar.
A idosa vive no Tanquã com o marido há 45 anos, em área cedida pela União em razão de possuir registro como pescadora. Antônio, também aposentado, pescou durante 40 anos no rio Piracicaba e conta nunca ter visto algo semelhante.
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