O Brasil precisa de uma nova abordagem para a mobilidade climática

As devastadoras inundações no Rio Grande do Sul, em maio, resultaram em ao menos 182 mortes e deslocaram mais 423 mil pessoas. Embora seja a pior catástrofe natural do estado em quase um século, movimentos populacionais em massa desencadeados por mudanças climáticas não são uma novidade no Brasil.

Nas últimas duas décadas, pelo menos 8 milhões de brasileiros migraram devido a tempestades, inundações, incêndios florestais, secas ou aumento do nível do mar. Só em 2023, aproximadamente 745 mil pessoas foram deslocadas por eventos climáticos extremos combinados com os efeitos do El Niño. Esse aumento na mobilidade climática não apenas revela os perigos das mudanças climáticas, mas também expõe o despreparo de governos e sociedades para enfrentar esses desafios.

No Brasil e em outros lugares, a decisão de ficar ou partir não é apenas motivada por eventos climáticos cada vez mais intensos e frequentes. Riscos socioeconômicos persistentes, como insegurança alimentar, pobreza, desigualdade e acesso a serviços básicos, desempenham um papel central.

No entanto, não se sabe exatamente quantos brasileiros estão se mudando devido às mudanças climáticas porque não existem sistemas centralizados de registro para monitorá-los. Enquanto os eventos extremos geram manchetes, pessoas deslocadas, migrando voluntariamente ou realocadas devido a desastres naturais e degradação ambiental, ou mesmo populações vulneráveis "presas" e incapazes de se mover, são em grande parte invisíveis.

Os países da América Latina e do Caribe enfrentam um futuro de ameaças climáticas crescentes, que incluem inundações, incêndios florestais, aumento do calor e do nível do mar. No Brasil, as temperaturas devem subir entre 1,7°C e 5,3°C até o final do século. A precipitação anual e as secas devem aumentar no Norte, Centro e Sul do país.

Pelo menos 2.000 dos 5.568 municípios são "extremamente vulneráveis" e precisam urgentemente de planos de "emergência climática". No entanto, apenas 14 dos 26 estados do Brasil elaboraram tais estratégias. Apesar da crescente preocupação pública, as autoridades nacionais e estaduais não priorizaram a adaptação e a resiliência relacionadas ao clima.

Líderes federais, estaduais e municipais do Brasil precisam desenvolver e implementar uma estratégia nacional e uma resposta coordenada interagencial que seja proporcional à escala da ameaça. O próximo Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas e o Fundo Verde para o Clima devem incluir disposições claras para abordar a mobilidade climática, incluindo projetos-piloto nas áreas mais vulneráveis. O PNA (Plano Nacional de Adaptação) do Brasil, elaborado há uma década, precisa urgentemente de uma atualização. O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais) também deve começar a monitorar a mobilidade climática como parte de seu mandato.

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