Copa América, Eurocopa e a extrema direita

Os "Brexiteers" deixaram o poder. Finalmente. O termo é usado para políticos do partido conservador, de direita, como o ex--premier Boris Johnson, que fizeram uma campanha mentirosa a favor da saída do Reino Unido da União Europeia. O Brexit foi a decisão mais equivocada desde os tempos da rainha Vitória; deixou o país mais dividido e pobre. Nas eleições gerais de quinta-feira (4), os conservadores sofreram uma derrota humilhante nas urnas. Catorze anos depois, o Reino Unido volta a ter um governo trabalhista.

Enquanto isso, a seleção da Inglaterra disputa a Eurocopa, na Alemanha. A equipe de Gareth Southgate, sempre engajada em temas como racismo e inclusão, não opinou sobre as eleições. Talvez porque os conservadores, com pautas radicais anti-imigração e trapalhadas na área econômica, nem tinham chance.

Ou porque os jogadores já têm problemas suficientes. Estão entre os favoritos ao título do torneio, mas seriam eliminados nas oitavas pela Eslováquia, 45 do ranking da Fifa, não fosse o gol de Bellingham no último minuto dos acréscimos, na vitória por 2 a 1. Uma seleção pressionada a conquistar um troféu que não vem desde a Copa de 1966, e questionada sobre por que seus craques não têm o mesmo desempenho apresentado nos clubes.

Já a seleção da França, exemplo do multiculturalismo do país, falou sobre política na Euro. Mbappé, Marcus Thuram e Dembelé pediram publicamente que os franceses não votem na ultradireita nas eleições parlamentares convocadas pelo presidente Emmanuel Macron, e que os jovens rejeitem o extremismo.

Aqui nos Estados Unidos, onde cubro a Copa América, fala-se muito em política, ainda mais depois do debate presidencial entre Joe Biden e Donald Trump.

Estou agora no Arizona, tão quente que parece que mergulhei em um forno ligado. Em raro momento de folga, sentei-me no bar de um pub para assistir a Brasil x Colômbia pelo celular.

Um senhor de boné, cabelos brancos e cavanhaque, sentado ao meu lado, puxa papo. Conta-me que é caminhoneiro e leva material para a construção do polêmico muro na fronteira com o México que tenta conter a entrada de imigrantes ilegais. Sorrindo, mostra-me fotos e pergunta o que acho sobre imigração.

Respondo que, no Reino Unido, o tema divide opiniões. E explico que a maioria dos que tentam entrar na Inglaterra, em botes pelo canal da Mancha, fogem de países em guerra e estão tão desesperados que aceitam o alto risco de morrer afogados se o barco virar.

Ele me diz que Trump vai ganhar as eleições e que a vida dele ficou pior com Biden presidente. Explico que a pandemia e a invasão da Rússia à Ucrânia contribuíram para a alta do preço de alimentos e na inflação global. Só então percebo que no boné dele está escrito "America First" —slogan de Trump. Desisto. Certas pessoas acreditam em qualquer coisa que você diga, contanto que seja o que elas querem ouvir.

Volto minha atenção ao jogo do Brasil, cuja camisa amarela foi sequestrada pela extrema direita. Há então uma súbita queda de luz no pub. O motivo seria a sobrecarga do sistema pelo calor e o uso do ar-condicionado. As temperaturas aqui passam de 45 graus, mas adiantaria falar sobre aquecimento global para alguém que defende um maluco como Trump, que diz que isso não existe? Nem deu tempo. A falta de luz acionou o alarme de emergência, e tivemos que sair rapidamente do pub. Na penumbra, não o vi mais. Ainda bem.

O que você está lendo é [Copa América, Eurocopa e a extrema direita].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...