Livro minucioso revive história e promessa de controle do desmatamento

Que leitores não se deixem enganar por Claudio Angelo ao dizer, à pág. 395 de "O Silêncio da Motosserra", que em 2011 teria abandonado a profissão para se tornar ambientalista. Uma meia verdade: o livro é obra de jornalista até a medula, um maremoto de fatos e dados a fundamentar a utopia factível de salvar a amazônia.

Após quatro anos de pesquisa e redação, fora um quarto de século na carreira de repórter e editor, Angelo entrega uma crônica detalhada da relação tempestuosa do Estado brasileiro com a maior floresta tropical do mundo. A tese é que ainda dá tempo de tentar impedir que ela vire fumaça e turbine a crise do clima já em curso.


Essa premissa tem a solidez da experiência histórica. O governo federal já comandou, de 2005 a 2012, a maior redução registrada por satélites no desmatamento da amazônia. De 27.772 km2 no segundo ano do primeiro governo Lula, a devastação recuou para 4.571 km2 no segundo do abortado governo Dilma.

Na empreitada de narrar tal façanha, mais tudo de ruim que veio antes e depois, Angelo teve como co-autor um dos cérebros que assessorou Marina Silva à frente do Ministério do Meio Ambiente, Tasso Azevedo. Ele, sim, ambientalista, mas da cepa que calça valores preservacionistas com evidências de pesquisa científica.

Não poderia contar com melhor parceiro. O engenheiro florestal foi fundador da pioneira ONG certificadora Imaflora, idealizou o sistema de concessões privadas de florestas públicas e o Fundo Amazônia, foi primeiro diretor do Serviço Florestal Brasileiro e, já fora do governo, liderou a formação da rede MapBiomas.

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"O Silêncio da Motosserra" nasceu de um desafio posto para Azevedo em 2023, início do quadriênio de tragédia ambiental sob Bolsonaro: o que se poderia fazer a respeito da amazônia e do clima em meio às trevas? Ricardo Teperman, publisher da Zahar, editora do grupo Companhia das Letras, propôs um livro.

"Eu sofria até para escrever as colunas n’O Globo a cada três semanas", conta Azevedo, que colaborou com o jornal fluminense por uma década, de 2011 a 2023. "Dá trabalho escrever, só faço bullets." Surgiu então a ideia de encarar o desafio na companhia de Angelo.

O jornalista já alimentava a ideia de narrar os sete anos em que as motosserras calaram desde antes da publicação de "A Espiral da Morte" (2016), sobre a mudança climática, pela mesma editora Companhia das Letras. O projeto nunca foi em frente. Precisou do fórceps da eleição do pior presidente do Brasil para nascer.

Boa parte da apuração jornalística para o livro foi realizada em dupla. Angelo e Azevedo viajaram juntos pela BR-163, a rodovia Cuiabá-Santarém que Marina e sua equipe de 2003-2008 tentaram transformar em laboratório de gestão ambiental saudável, para prevenir a devastação que sempre vem com o asfaltamento de estradas na amazônia.

Deu no que deu, com Dilma, Temer e Bolsonaro no comando do país. Garimpo, grilagem e o infame Dia do Fogo, em 10 de agosto de 2023, quando fazendeiros bolsonaristas inundaram o Pará com fumaça. Qualquer semelhança com os incêndios da semana passada em São Paulo não terá sido coincidência.

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