Morre Delfim Netto, ministro do milagre econômico, aos 96 anos

O economista, ex-ministro e ex-deputado Antonio Delfim Netto morreu nesta segunda-feira (12), em São Paulo, aos 96 anos. Ele estava internado havia uma semana no Hospital Israelita Albert Einstein, segundo sua assessoria de imprensa, por complicações no estado de saúde.

Ele deixa filha e neto. Velório e enterro foram realizados nesta segunda-feira, em cerimônias restritas à família.

Delfim foi uma figura complexa. O ministro que assinou em 1968 o AI-5, e era único ainda vivo entre os signatários do ato que inaugurou os Anos de Chumbo no país, foi também o deputado federal que, 20 anos depois, chancelou a Constituição de 1988, considerada uma das mais democráticas do planeta.

Foi o homem forte dos generais durante o regime militar (1964-1985) e, quase duas décadas depois, um dos principais interlocutores de Lula nos dois primeiros mandatos do ex-metalúrgico.

"Figura brilhante e multifacetada da cena nacional, deixa abundante material para os historiadores", resumiu Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central.

O economista e professor da USP soube se reinventar ao longo da carreira. Dizia em vida ter sido três: o primeiro, um socialista fabiano, adepto do movimento inglês surgido no século 19 e que defendia a implantação do socialismo por meio de reformas graduais. O segundo, o homem do governo militar. E o terceiro, o que contribuiu no fim da vida com as políticas sociais do primeiro governo Lula (2003-2010).

Sua projeção nacional começou em 1967, quando se tornou, aos 38 anos, o mais jovem ministro do país. Assumiu a pasta da Fazenda de Costa e Silva para só deixá-la em 1974, no fim do governo Médici. No período, ganhou a fama de "czar da economia brasileira". Nos 21 anos de ditadura, comandaria por 13 deles a economia do país.

Alçado do cargo de secretário da Fazenda de Laudo Natel, em São Paulo, era descrito como um negociador habilidoso que demolia argumentos contrários com humor e amaciava seus críticos.

Em sua primeira temporada como "mandachuva do governo", o país viveu de 1969 a 1973 o período conhecido como "milagre econômico". As taxas de crescimento registradas naquela época eram superiores a 9% ao ano.

Logo ao assumir o cargo, Delfim anunciou o tabelamento e a redução da taxa de juros e a ampliação do crédito para combater a inflação e acelerar o crescimento. Também aumentou o gasto público e incentivou o investimento privado nas indústrias.

Saiba mais sobre Delfim Netto

De 1968 a 1973, sob o slogan de "exportar é o que importa", o PIB do país cresceu 11,1%, a inflação caiu 19,2%, e o poder aquisitivo da classe média se expandiu. Foi a época de obras grandiosas, como a Transamazônica, a ponte Rio-Niterói e Itaipu.

Um estudo feito em 2022 por trabalho de Edmar Bacha, Guilherme Tombolo e Flávio Versiani colocou em dúvida esses índices. O trabalho aponta que o crescimento no milagre econômico estaria superestimado, principalmente por causa de uma mudança metodológica adotada em 1969 que mudou a contabilização dos serviços com menor crescimento.

De qualquer modo, houve também o outro lado do milagre. A dívida externa aumentou quatro vezes, o valor real do salário mínimo caiu, e a população mais pobre viu despencar sua participação na renda nacional. Delfim passou a ser acusado de "adulador de banqueiros" e responsável direto pelo arrocho salarial e pela recessão.

Ligeiramente estrábico e gordo, era vítima fácil dos cartunistas. O que não o incomodava. Desde 1967, colecionava charges que o representavam e mantinha algumas na parede do escritório.

Emérito fazedor de frases e famoso por ser irônico e mordaz em seus comentários, dizia que "dívida não se paga, se administra". E negava ser sua a frase: "Primeiro é preciso fazer crescer o bolo, para depois reparti-lo", que sempre lhe atribuíram.

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