XP é acusada de pressionar funcionário a levar pai a investimento que deu prejuízo

A XP Investimentos é acusada na Justiça de ter pressionado um funcionário para que ele convencesse o pai a fazer uma operação financeira que acabaria em prejuízo.

Na ação judicial, o empresário Marco Antonio Puerta pede que a corretora lhe devolva os valores perdidos numa transação de R$ 15 milhões. Ele alega não ter sido alertado sobre os riscos do investimento, cuja contratação teria ocorrido via seu próprio filho Gabriel Puerta —que trabalhava na XP na época— mediante pressão e ameaça de seus superiores.

Na última quinta-feira (22), o juiz André Augusto Salvador Bezerra concedeu medida liminar (provisória) determinando a suspensão da cobrança de juros de empréstimo ligado à operação.

Em nota, a XP disse não comentar casos na Justiça, mas afirmou que os "poucos fatos publicados estão fora de contexto" e que vai recorrer da decisão liminar.

"Em respeito à privacidade das informações de clientes, a XP não comenta casos específicos em andamento na Justiça. Os poucos fatos publicados estão fora de contexto, não refletem a realidade e a decisão liminar até então proferida será objeto de recurso. A XP preza pela qualidade no relacionamento com seus mais de 5 milhões de clientes, reconhecida pelos prêmios que acumula no seu segmento de atuação."

A acusação foi revelada pelo site O Bastidor e confirmada pela 💥️Folha.

Na ação, que tramita na 42ª Vara Cível de São Paulo, a defesa de Marco afirma que Gabriel passou a ser alvo de constrangimento contínuo por parte da XP, inclusive com ameaças de demissão, para que seu pai topasse a operação financeira.

Segundo o processo, Marco tinha cerca de R$ 22 milhões investidos na corretora. Os valores estavam aplicados em um "fundo private", com CNPJ próprio e assessores exclusivos.

Apesar dos bons rendimentos, o empresário diz que passou a receber propostas para realocar os recursos logo após seu filho ser contratado pela empresa, no final de 2023.

De acordo com a ação, Gabriel convenceu seu pai a fazer uma "operação mista", que consistia em tirar R$ 15 milhões do fundo exclusivo para aplicá-los em COEs (certificados de operações estruturadas) por cinco anos.

COEs são investimentos que combinam uma parte de renda fixa e ativos mais arriscados, como commodities, moedas e Bolsas estrangeiras

Para não ficar sem liquidez, a segunda parte da operação envolvia tomar um empréstimo de R$ 15 milhões mediante Cédula de Crédito (CCB), com juros pagos semestralmente.

A lógica era que os rendimentos do COE pagariam com sobra os juros do empréstimo, garantindo um lucro substancial, entre R$ 475 mil e R$ 3 milhões.

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A operação foi feita em março de 2022. No entanto, segundo o processo, trouxe prejuízo. Além de rebaixar o perfil de Marco de "private" para "unique" na corretora, os rendimentos não eram suficientes para cobrir os juros do empréstimo.

Pedro Barreto, advogado de Marco e sócio do escritório Rodriguez Barreto Sociedade de Advogados, diz que seu cliente não foi alertado dos riscos e avalia que a equipe da XP forçou um negócio inútil, desfavorável ao cliente, tão somente para garantir à equipe os bônus de investimento.

"Se fosse só uma situação de investir mal, o risco é de quem investiu mal. O problema é que teve um caráter de pressão. O chefe do Gabriel na XP forçou ele a levar o pai a concluir o negócio sem nenhuma tomada de informação concreta", afirma.

Trocas de mensagens anexadas ao processo mostram conversas entre Gabriel e seu chefe.

Em uma das capturas de tela, o gestor pergunta se ele achava que a operação virava ainda naquele mês. "Ansioso por isso. Tô precisando de um bônus mais gordo", responde Gabriel.

Segundo Barreto, outra conversa que mostra a pressão pelo bônus é quando o superior de Gabriel avisa que se um documento não fosse assinado naquele dia, o desembolso (sinônimo para bônus, segundo ele) entraria apenas no mês seguinte.

Em outro momento, eles comentam sobre Marco não estar confortável. "Vai tranquilo. Antes de seu pai, é seu cliente", diz o chefe.

O pedido da defesa é que a operação seja anulada e que, além de devolver os valores usados, a XP indenize Marco em R$ 3 milhões referentes aos juros do empréstimo (a liminar da semana passada interrompe, por enquanto, a cobrança dos juros).

A defesa também acionou a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) sobre o caso.

Apesar dos prejuízos, o advogado afirma que a relação entre pai e filho está normalizada, embora tenha sido comprometida no começo. "Mas isso foi superado, inclusive porque agora a gente está buscando a solução, e ele [Gabriel] cooperou", diz Barreto.

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