Inflação implícita subiu muito e isso gera desconforto para o BC, diz Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (28) que a inflação implícita subiu muito e afirmou que isso gera desconforto para a autoridade monetária, reiterando o compromisso do BC com a meta.
A inflação implícita é aquela que está embutida na curva de juros futuros, ou seja, tem relação com as projeções do mercado para os preços no país.
"As inflações implícitas subiram muito, com uma subida até 2026, isso gera um grande desconforto para o Banco Central. É importante enfatizar que o Banco Central vai fazer o que for preciso para atingir a meta", disse durante conferência anual do Santander, em São Paulo.
Campos Neto ainda frisou que há uma "convergência de opiniões na diretoria do colegiado" do Copom (Comitê de Política Monetária) a respeito desse assunto.
O presidente do BC afirmou que os últimos dados do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), divulgados na terça-feira (27), vieram qualitativamente "um pouco melhor", mas enfatizou que eles ainda não dão conforto ao BC na política monetária.
Ele disse que a atividade econômica no Brasil está forte, com todos os índices apontando para uma melhora em quase todos os setores, ao passo que o desemprego vem caindo e a massa salarial subindo bastante, com ambos os indicadores (crescimento econômico e taxa de desemprego) mostrando que os analistas vêm errando nas projeções no país há algum tempo.
O presidente do BC disse que o setor de serviços, que tem sido acompanhado de perto pelos BCs no mundo todo, está um pouco pressionado, embora ainda longe do que se imaginava um tempo atrás em meio a um mercado de trabalho aquecido e à consequente alta do consumo.
Segundo Campos Neto, o Copom tem olhado com muita atenção para esse aspecto e frisou que a autarquia ainda precisa de mais dados para ter clareza das próximas decisões de juros.
Ele disse que entende que a falta de um guidance por parte do BC em suas comunicações, ou seja, de uma direção sobre o que a autoridade fará nas reuniões do Copom, gera mais volatilidade nos mercados, mas afirmou que o BC ainda não tem certeza sobre os dados atuais para deixar claro seus próximos passos e prefere ter mais flexibilidade na sua atuação.
"Não ter guidance às vezes eleva um pouco a volatilidade no mercado, as pessoas passam a prestar mais atenção no que cada diretor [do BC] fala (...) mas tem uns momentos que dar guidance tem valor esperado negativo", afirmou.
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Campos Neto defendeu que essa falta de direcionamento não tira a credibilidade do Banco Central, argumentando que o que traz credibilidade é ter uma estrutura técnica ao longo do tempo, com transparência de comunicação, para além de uma ou duas decisões.
O presidente do BC também fez breves comentários sobre a política fiscal do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele reconheceu os esforços da equipe econômica, mas demonstrou preocupação com a alta de gastos.
"A gente reconhece que o governo tem se esforçado bastante, tem sido bastante difícil esse exercício, e a gente vê que, apesar de ter uma evolução de receita boa, as despesas estão subindo acima da receita", afirmou a uma plateia de agentes do mercado financeiro.
Questionado sobre a volatilidade do dólar, Campos Neto voltou a dizer que o BC chegou muito perto de fazer uma intervenção no câmbio e disse que a autoridade monetária ainda pode atuar se for preciso. "O Banco Central está com o dedo no gatilho", declarou.
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