Há dissonância entre as preocupações dos trabalhadores e as prioridades da esquerda

Podemos dizer tudo sobre o Donald. Mas não é possível negar a sua esperteza política. A escolha de J.D. Vance como vice é o exemplo mais fulgurante. Ali está o herdeiro do trumpismo?

Certo. Mas esse não é o ponto. O ponto é que a escolha de Vance consagra definitivamente os republicanos como o partido da classe trabalhadora branca nos Estados Unidos. A mudança é tão sísmica como a transformação do sul segregacionista e democrata (até 1950) em bastião dos republicanos (depois de 1950 e até hoje).

Aliás, se dúvidas houvesse, bastaria ler as palavras de Trump justificando a escolha: "Os trabalhadores e agricultores americanos na Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Ohio, Minnesota e muito além" terão em J.D. Vance o seu defensor.

Trump sabe que, para ganhar a Casa Branca, precisa da Pensilvânia (primeiro que tudo) e depois do Michigan e do Wisconsin, que votaram em Trump (em 2016) e em Joe Biden (em 2023). Como reconquistar ambos?
Escolhendo um legítimo filho dessa América abandonada.

Perante isso, a pergunta é óbvia: como foi possível que a esquerda americana (e não só) tenha alienado assim a sua tradicional base de apoio?

De Washington, a correspondente da Folha informa na newsletter o que importa sobre a eleição

O economista (de esquerda) Daron Acemoglu tenta explicar o suicídio em entrevista ao alemão Der Spiegel.

Para começar, os políticos da "terceira via" (Bill Clinton, Tony Blair, Gerhard Schröder) renderam-se às promessas fáceis da globalização, na esperança ingênua de que ninguém ficaria para trás.

Sabemos hoje que esse otimismo foi excessivo, sobretudo para os trabalhadores menos qualificados.
A automatização crescente na agricultura e na indústria, desde a década de 70, já tinha feito os seus estragos. A deslocalização de postos de trabalho para mercados emergentes foi o golpe de misericórdia para a classe operária ocidental.

A esse respeito, lembro sempre as palavras de Francis Fukuyama no importante "Liberalismo e seus Descontentes": "Poucos eleitores pensam em termos de riqueza agregada. Eles não dizem para si mesmos: "Bem, posso ter perdido meu emprego, mas pelo menos há outra pessoa na China ou no Vietnã, ou um novo imigrante no meu país, que está proporcionalmente em situação muito melhor".

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