Esquerda britânica se reciclou e ganhou

O plebiscito que em 2016 decretou o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia inaugurou a era do novo populismo de direita nas democracias ocidentais. A vitória dos trabalhistas no Reino Unido, na eleição desta quinta-feira (4), mostra que a mesma competição política regular que deu à luz o radicalismo oferece antídotos a ele.

O Partido Conservador, agora despejado de Downing Street após um longo período de 14 anos no governo, foi diretamente atravessado e transformado pelo brexit.

As lideranças arejadas, que sob o premiê David Cameron patrocinaram o plebiscito na equívoca expectativa de derrotar os separatistas, foram varridas da legenda após o resultado desfavorável.

Sucederam-lhes figuras controversas, como o espalhafatoso Boris Johnson (2019-2022) e a brevíssima Liz Truss, que cogitou praticar experimentalismos nas finanças e caiu em 50 dias. Restou ao insípido Rishi Sunak (2022-2024) conduzir a massa falida até a eleição.

Todas essas figuras foram incapazes de lidar com o terremoto econômico provocado pela separação da União Europeia. E foi o esquálido desempenho da economia que enfraqueceu o Partido Conservador. A produção está praticamente estagnada há quatro anos, o que fez o país desviar-se da trajetória das outras nações desenvolvidas.

O mesmo jogo da política que fez explodir os custos da aventura do brexit sobre os ombros dos conservadores estimulou a oposição a se reorganizar para voltar ao poder.

Após a derrota de 2023 para Johnson, o Partido Trabalhista afastou-se do radicalismo esquerdista para onde havia rumado. Caminhou para o centro e reciclou suas ideias e quadros, permitindo a ascensão do pragmático Keir Starmer, eleito premiê, e da economista formada nos cânones do Banco da Inglaterra Rachel Reeves, a primeira mulher a chefiar o ministério das Finanças na história do Reino Unido.

A campanha oposicionista explorou prioritariamente a estagnação econômica legada por 14 anos de gestões adversárias. Prometeu a retomada do crescimento com respeito ao equilíbrio orçamentário, sem pesar a mão nos impostos e atenta aos gargalos microeconômicos, como os do comércio exterior, que atravancam os negócios.

"Estabilidade é mudança" tornou-se o lema de Reeves na caminhada para reconquistar para o seu partido a confiança da maioria dos cidadãos.

A eleição britânica escancara lições que contrastam com o que ocorre na França, onde o radicalismo ganha adesão popular, e no Brasil, onde o partido trabalhista não recicla suas tenebrosas ideias sobre a economia. Também mostra que a democracia sempre tem soluções para as mazelas da política.

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