Ripley e a alma dos aperitivos italianos

Desde que seus pais morreram afogados, Tom tinha pavor de água, o que explicava seu desconforto com a sunga que vestia. Sentia-se pelado, desprotegido. Quando o convidaram para nadar, entrou em pânico, e de nada adiantava a beleza da costa amalfitana. Enquanto eles se afastavam mar adentro, colocou os pés na água e a mão na cintura, em pose de quem finge estar no controle.

Só se acalmou depois de um banho na casa de Dickie, situada no belo vilarejo de Atrani, no sul da Itália. Mas principalmente quando sentiu a taça de martini na mão, entregue por Marge. Contido naquele invólucro elegante, o coquetel transmitia conforto.

Mesmo assim, aquele pequeno mar etílico, belissimamente fotografado em "Ripley", sugeria um preâmbulo de tempestade. Triangular como a taça, a relação que ali se estabelecia já exibia suas sombras. A mitologia greco-romana pulsava com sua rede de intrigas e cada gesto feliz trazia seu reflexo de tensão.

A série baseada em "O Talentoso Ripley", primeiro romance de Patricia Highsmith com seu personagem psicopata, tem momentos de imensa beleza, no preto e branco evocativo das imagens, que lembram o chiaroscuro de Caravaggio, ídolo de Dickie, e que se tornará um modelo para Tom, mas também, a partir do terceiro episódio, instantes de suspense e aflição, com um detalhamento que pinça os nervos.

Até lá, os encontros entre os três americanos se desenrolam em varandas e cafés, como só os verdadeiros bons-vivants fazem, sem nenhuma preocupação além de qual será o próximo drinque. Il dolce far niente. No livro, Dickie afirma, alegremente alheio: "É disso que eu gosto, ficar numa mesa e ver as pessoas passando. Me dá outra perspectiva da vida. Os anglo-saxões cometem um grande erro de não se sentarem numa mesinha de rua e ficarem observando o movimento."

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