Além de Tiradentes: quem foi a mulher que ordenou levante armado em 1789
O bilhete escrito por ela consta nos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, processo instaurado pela Coroa portuguesa contra os conspiradores. A frase final demonstra seu destemor:
✅"Quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas; e mais vale morrer com honra que viver com desonra".
💥️Ela foi, até onde se sabe, a única mulher a ter participação ativa nos rumos da Inconfidência, um movimento liderado pela elite com o objetivo de instaurar uma república independente em Minas Gerais. Apesar disso, foi esquecida pelos livros de história.
A personagem chamou atenção da historiadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais Heloísa Starling, referência nos estudos sobre o pensamento republicano no Brasil.
Sobre a biografia de Hipólita, o que se sabe é que ela nasceu em Prados, provavelmente em 1748. Recebeu uma educação diferente da que normalmente era dada às filhas da elite colonial, que aprendiam apenas a costurar, bordar, fazer rendas, rezar e tocar piano. Teve bons professores, contratados no Rio de Janeiro, escrevia e lia em português e francês.
Ao que tudo indica, se casou em 1781 - aos 33, tarde para os parâmetros da época - com Francisco Antônio de Oliveira Lopes, que também se envolveu de corpo e alma na conjuração.Outra peculiaridade de Hipólita em relação às mulheres de seu tempo é que desde sempre tinha o costume de andar sozinha, a cavalo ou a pé, pela fazenda e seus arredores. Consta que era uma boa amazona.
Mas, num aspecto, sua mentalidade parece ter estado de acordo com a de uma mulher da elite das Minas no século 18. Proprietários de escravizados, os inconfidentes não formularam uma crítica à exploração da mão de obra indígena e africana.
💥️"Faltou à conjuração mineira o debate abolicionista. Não temos nenhuma indicação, nem indireta, de que ela tenha formulado alguma ideia a esse respeito", afirma Starling.
Amante da natureza, deu livro a Tiradentes
Além disso, tinham um interesse comum: a botânica. Hipólita tinha o costume de entrar na mata atrás de espécies de plantas que trazia para cultivar no jardim, no pomar e na horta da fazenda. É possível que conversassem sobre isso.
A conjuração foi derrotada, mas a pena aplicada pelo então governador Visconde de Barbacena não foi capaz de domar Hipólita. Por uma década, ela seguiu enfrentando com engenhosidade a Coroa para reaver seu patrimônio, que conseguiu recuperar. Manteve também em torno de si uma rede de familiares e amigos que a ajudaram nisso.
"Isso é importante para as pessoas não se sentirem sozinhas e para as ideias políticas não desaparecerem", diz a professora da UFMG.
Para ela, resgatar a figura de Hipólita ajuda a elaborar no presente discussões sobre liberdade, soberania, a importância da república e de se inteirar dos assuntos que dizem respeito a todos para construir o bem comum.
"É muito bom conhecer uma mulher tão valente, capaz de romper com tantos limites para poder pensar com a própria cabeça. Isso é muito forte ainda hoje. E o recado de 'quem não tem competência para as coisas, que não se meta nelas', ainda serve, não é?".
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