Orgulhosa do peitão, foi chamada de vaca leiteira e fechou o decote

Orgulhosa do peitão, foi chamada de 'vaca leiteira' e fechou o decote
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Ana Canosa

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Mas Vanessa estava cansada, me disse, por se sentir quase toda como um "par de peitos ambulante". Não foram poucos os homens que ela cruzou vida afora com mazofilia, um interesse sexual intenso por mamas, alguns com verdadeira obsessão. Como Pedro, que não conseguia desviar o olhar, fosse de roupa ou sem, a deixando constrangida —ou Amilton, que só fazia sexo 'à espanhola'— ou Leandro, que passava muito tempo alisando, beliscando e brincando com os seus mamilos, como um bebê apaziguando as angústias da sua fase oral mal elaborada. Nada contra, não fosse o fato dele não conseguir fazer mais nada, sexualmente falando.

Explico para Vanessa que as preferências pessoais podem variar muito e não existe uma regra para o que atrai cada indivíduo. Cada pessoa tem seus próprios interesses quando se trata de atração física e contextos eróticos. O problema é que, quando alguém tem uma fixação por uma prática sexual ou situação que o excite, corre-se o risco da parceria se sentir como uma espécie de veículo de mão única para o seu desejo, um objeto de satisfação.

Obviamente que todos nós usufruímos do comportamento sexual de parceiros e parceiras, seja pelo gozo físico que seus corpos e atitudes nos promovem, seja pelo gozo emocional de nos sentirmos desejados e eroticamente interessantes. O problema é que, no caso de Vanessa, as mamas sempre pareciam 'chegar' antes dela. Então, ela tinha um dilema existencial na sua identidade feminina, já que reproduzia uma atitude física que acabava reforçando a objetificação de seu corpo, como mulher, diante do cenário cultural que vivemos. Como recusar a sua expressão máxima —e aprendida— de sedução?

Em dado momento da vida, me contou, passou a se vestir quase de hábito, a fim de esconder seus predicados. Mas se estranhou como nunca, como se estivesse a andar com um sapato apertado. Perdeu o sorriso largo e a gargalhada gostosa que eram também uma bonita expressão de sua personalidade. Foi quando conheceu Joana, uma colega de trabalho que nas horas vagas vendia fotos e vídeos de seus pés em uma dessas redes sociais com conteúdo adulto. Pareceu fazer sentido, para ela, resolver a questão assumindo algum controle do desejo alheio sobre seu corpo, ganhando dinheiro com isso.

Quando chegou até mim, Vanessa estava a viver com uma identidade secreta, como os heróis masculinos dos quadrinhos —à noite usava máscara para exibir seus seios fartos, fazer vídeos e fotos e interagir com alguns "clientes". De dia, um tantinho mais comedida, fechando botões. Até que um sujeito na plataforma a chamou de vaca leiteira —não sabemos até agora se como crítica ou elogio—, o gatilho para uma crise de choro e uma ansiedade sem fim.

Vida injusta essa, que, do dia para a noite, sem mais nem menos, ativa um gatilho emocional que desorganiza tudo o que achávamos estar organizado. Vanessa se sentiu "desmascarada", embora ninguém tenha sabido quem ela é. Fechou seu perfil, os decotes e o coração, para vocês verem o que uma simples piadinha inocente pode fazer com alguém.

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