Homem que carrega jovem por 3 km para estuprá-la não deveria chocar
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Cristina Fibe
Crueldade inconcebível.
Robinho debocha do estupro coletivo que cometeu e viu ser cometido.
Áudios difíceis até de escutar.
Um líder espiritual que todos os dias abusava sexualmente de suas fiéis, há 40 anos.
Como ninguém percebeu?
Uma recém-nascida morre aos 27 dias de vida, com lesões nas partes íntimas. O pai é preso no enterro.
Só pode ser um psicopata.
A cada notícia, um espanto. As redes sociais se comovem, rápidas a condenar os "monstros" que cometeram esses crimes atrozes. E também a dar conselhos às mulheres para que evitem passar por isso.
As vítimas têm uma parcela de responsabilidade, dizem. Não devia ter bebido. Não devia estar desacompanhada no hospital. Não devia ter dançado. Não devia ter acreditado no médium.
Não devia ter nascido.
Trago más notícias. Os homens que cometeram esses crimes não são monstros, não são párias da sociedade. Parar de beber, de dançar, de ir ao médico ou em busca de uma cura espiritual não vai nos proteger. O perigo, sabemos, está na esquina, na sarjeta, na festa, no hospital, no templo, na escola. Está dentro de casa.
Enquanto olharmos as mulheres como facilitadoras do estupro e fizermos vista grossa para a raiz do problema, ele não será resolvido.
No Brasil, um homem estupra uma mulher a cada sete minutos. No ano passado, segundo dados do Fórum de Segurança Pública, foram 75 mil registros de crimes sexuais, dado que representa menos de 10% do total de vítimas, já que a maior parte delas não denuncia.
Pelos cálculos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o Brasil tem na verdade mais de 800 mil casos de estupro ao ano. Não um a cada sete minutos. Mas dois estupros por minuto.
Pelos dados oficiais, seis de cada dez vítimas têm de menos de 13 anos; 68% delas foram violentadas dentro de sua própria casa.
O que as câmeras de segurança das ruas mostram é uma fração mínima do que acontece o tempo inteiro, à luz do dia, debaixo do nosso nariz.
Os homens que cometem esses crimes estão por aqui, entre nós. Tratam as meninas e mulheres como objetos, e usam os seus corpos para demonstrar poder. Não é sobre um prazer que não conseguem controlar. É sobre domínio.
Um domínio masculino que ainda é socialmente aceito. E está bem vivo e presente nos discursos de antifeministas e masculinistas que, sob pretexto de defender certos "papéis" atribuídos aos homens, estão, na verdade, propagando o ódio e a violência contra as mulheres.
A cena de horror do sujeito que carrega um corpo vivo e frágil nas costas está na conta de cada uma e cada um que pensa que, no fundo, a culpa é dela. Está na hora de mudar o foco —e parar de fazer vista grossa para os homens que nos atacam, todos os dias.
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