Não te perdoo, mas te amo: dá pra amar e odiar alguém ao mesmo tempo?
Imagino os comentários, e serei obrigada a concordar com todos eles. Qual a importância de um ator americano para a nossa recém-retomada pasta da Cultura? Onde uma série como "Succession" ilumina nossas questões sobre o futuro do streaming no país? De novo discorrendo sobre um produto gringo visto por uma parcela ínfima dos brasileiros?
E, depois, estamos falando de uma gente bilionária, um povo que confunde código de barras com QR Code, e que nunca ouviu falar de cheque especial nem de parcelamento de geladeira na Magalu. Helicópteros, iates, mansões e jatinhos, nada poderia ser mais distante da vida de 99,9% dos nossos companheiros de país.
Peço desculpas pela obsessão, mas vou em frente. Por que, então, me emociono tanto com a série da HBO? Bom, pra quem não conhece a história, estamos falando de pais e filhos. Disputando poder e dinheiro em um império de comunicação construído por um empresário inescrupuloso, truculento e abusivo. Que tem quatro filhos igualmente desprovidos de ética e empatia e que brigam, não só com o pai, mas também entre si.
Ok, o cenário nos distancia, e a língua, idem, mas Freud não perdoa, e um pai opressor deixa contas altas em qualquer conta bancária. E emocional.
O que fazer com o saldo? Não vou desenvolver para não dar spoiler, mas queria deixar registrada uma frase do episódio do último domingo que, pra mim, foi praticamente o sentido da Páscoa.
"Eu não te perdoo, mas eu te amo." Quer dizer que é possível? Amar e odiar? Ao mesmo tempo? Sem briga de torcida? E sem julgamento? Pode?
Aqui tem duas horas que mudaram uma vida inteira.
Meu muito obrigada ao superpoder da dramaturgia, e gratidão eterna aos atores que se permitem a humanidade da contradição. Em um mundo cada vez mais organizado por lados opostos, enxergar a selvageria e o afeto juntos é, além de bonito, um baita de um serviço.
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