Precisamos criar um pacto da negritude

Quando estive pela primeira vez em Nova York para representar e abrir caminhos para o Fundo Agbara, em setembro de 2022, tive a experiência de viver 30 dias de encantamento com a cidade. Não foi por causa das luzes da Times Square, do multiculturalismo, da vivacidade do Central Park em tempos de verão, tampouco das luxuosas grifes da Quinta Avenida.

Obviamente não foi pela absurda quantidade de lixo produzido pela cidade que não dorme, acumulados aos metros nas ruas que abrigam sonhos e delírios intensos de consumo capitalista (pelos quais podemos ser facilmente capturados). Essas ruas também abrigam a maior densidade populacional de ratos que já vi, enormes e bem alimentados, que, mesmo de perto, não se intimidam com nossa presença.

Há muitos anos, alimentava o sonho de conhecer o Brooklyn. Veja bem: não era Nova York. Era o Brooklyn. Costumava brincar que esse era meu sonho secreto de neocolonizada. Para mim, o Brooklyn era a Meca negra do Ocidente.

Sabia que encontraria algum segredo, algum insight. Como se aquelas ruas guardassem uma pista que eu só poderia desvendar pisando naquele chão, e, de algum jeito, essa pista facilitaria o meu caminho enquanto mulher negra latino-americana.

Acertei na intuição e errei o lugar. O Brooklyn, de certa forma, me decepcionou pela gentrificação e consequente embranquecimento. Foi nas ruas do Harlem que eu pertenci.

Perdi as contas de quantos "Hey, sista, I love your hair", "You' beautiful, sista", ouvi durante aquelas semanas. Uma aula sobre autoestima negra. Aprendi que, mesmo em meio a divergências, a comunidade negra se celebra. Emocionante.

E foi nos rooftops de Manhattan que vi pessoas negras ascendentes fazendo o que pessoas brancas fazem o tempo todo nesses espaços que concentram poder: pactuando. Espaços de celebração e entretenimento são espaços políticos.

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