Pegadas de dinossauro de 125 milhões de anos trazem pistas sobre evolução desses gigantes no Nordeste

Há 125 milhões de anos, um gigante caminhou pelo lugar que um dia certos primatas batizariam como São João do Rio do Peixe (PB). Tudo indica que seus imensos ossos voltaram há muito ao pó do qual vieram. Mas isso não impediu que um grupo de cientistas brasileiros conseguisse reconstruir detalhes de sua anatomia usando apenas as pegadas que deixou, reconhecendo-as como um registro único da Era dos Dinossauros.

A trilha deixada pelo dino, um quadrúpede pescoçudo e de cauda longa que pode ter chegado aos 15 metros de comprimento, ganhou até nome científico: ✅Sousatitanosauripus robsoni. Trata-se de um novo icnogênero. Isso porque, diferentemente do nome de gênero e espécie dado aos bichos propriamente ditos, os paleontólogos empregam uma nomenclatura paralela para designar apenas os icnofósseis –os fósseis que não correspondem ao corpo do animal, o que inclui pegadas, mas também tocas e até marcas deixadas pela urina, entre outras coisas.

As sete pegadas, com uns 70 cm de diâmetro cada uma, foram achadas no oeste do território paraibano, em rochas expostas no leito de uma estrada por onde passam carroças. Elas foram analisadas por uma equipe da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) que inclui a mestranda Zarah Trindade Gomes e a professora Aline Ghilardi. Gomes é a primeira autora do estudo descrevendo os icnofósseis no periódico especializado Historical Biology.

A simples preservação de uma trilha deixada por um dinossauro de grande porte já é espetacular o suficiente, claro, mas ainda mais fascinante é perceber como os detalhes de cada patona pressionada contra o sedimento ajudam a entender quem era esse bicho –provavelmente um titanosauriforme, segundo os pesquisadores.

Destrinchemos, portanto, a nomenclatura usada para descrever as marcas. O primeiro termo relevante é "heteropodia" –ou seja, o grau de diferença entre as patas da frente e as de trás. No caso do animalão paraibano, havia baixa heteropodia.

Os cinco dedos das patas da frente –ou mãos, como os próprios cientistas dizem– não deixaram marcas de garras, diferentemente do que se vê entre outros dinos pescoçudos. E a "pista" formada pelo conjunto das pegadas é bastante estreita, mostrando que as patas não se "espalhavam" para as laterais conforme o bicho caminhava.

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Tudo isso coloca as pegadas do ✅Sousatitanosauripus robsoni numa posição intermediária no desenvolvimento dos titanosauriformes, bichos que, no decorrer de sua evolução, alcançariam tamanhos ainda mais desmesurados, talvez ultrapassando os 30 metros de comprimento. Nesse processo, os bichos passaram a arquear cada vez mais os membros, levando a pistas mais largas. Ao mesmo tempo, a perda das garras da mão foi importante para que os membros dos bichos sustentassem melhor seu peso. O animal paraibano já estava sem garras, mas ainda tinha a passada mais fechada dos ancestrais de seu grupo.

A trilha descrita no novo artigo é só uma pequena parte da riqueza do chamado vale dos Dinossauros, que abrange principalmente o município de Sousa (PB). O nome do novo icnogênero homenageia um dos responsáveis por descobrir e preservar essa riqueza –Robson Araújo Marques, por alcunha "o velho do rio", que morreu em 2023 aos 77 anos. Ele certamente ficaria feliz ao se ver eternizado em latim como robsoni.

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