Plataforma nacionalista-cristã de Trump é ameaça à democracia

Após a decisão do presidente Joe Biden de abandonar a corrida presidencial, anunciada em 21 de julho, todos os olhos se voltaram para Kamala Harris. Por um momento, o republicano Donald Trump foi deixado de lado. Mesmo a poderosa imagem do ex-presidente levantando-se após quase ser morto em um atentado cedeu espaço aos discursos, aos sorrisos e à aparente vitalidade da vice-presidente e atual candidata democrata.

Biden era alvo fácil, e sua desistência desorganizou a estratégia trumpista. Trump está perdido em seus ataques contra Kamala, ora acusando-a de manipular sua ascendência negra para ganhar votos, ora sugerindo que ela irá banir o consumo de canudos plásticos e carne vermelha (!). Suas declarações, claro, oscilam entre o preconceito aberto, a caricatura desonesta e a mentira absoluta.

Mas há um lado particularmente preocupante na ofensiva republicana. Trump e seus aliados têm sido cada vez mais enfáticos na promessa de um projeto abertamente autoritário, caso sejam eleitos. Eles querem consolidar na cabeça do eleitor republicano a ideia de que somente uma ditadura será capaz de neutralizar a "ameaça woke", que ameaça Deus, a nação americana e a família tradicional.

Vejamos, por exemplo, o que Trump disse em um comício na Flórida, semanas atrás, promovido pela Turning Point Action —associação cristã ultraconservadora conhecida, entre outras coisas, por manter uma lista de professores "esquerdistas" em universidades norte-americanas: "Cristãos, saiam e votem! Somente desta vez (...) depois consertaremos isso. Vocês não terão mais que votar, meus lindos cristãos".
Mesmo quem faça uma leitura generosa da fala de Trump deverá admitir que "não ter mais que votar" deixa pouco espaço para interpretação. Ou ele está presumindo que as instituições estarão dominadas a ponto de assegurar vitórias sucessivas aos republicanos, ou está sugerindo que não haverá mais eleições.

Em ambos os casos, fica claro que sua plataforma nacionalista-cristã, fenômeno sobre o qual já escrevi nesta 💥️Folha ("Bolsonarismo e Talibã são expressões do fenômeno do nacionalismo religioso", 24/8/21) não comporta a diversidade ou a competição eleitoral.

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