Anatomia e implicações da desigualdade brasileira

Qual é a anatomia da desigualdade no Brasil? Sabemos que ela está entre as mais altas do mundo, mas de que tipo é essa desigualdade? A maioria da população é extremamente vulnerável? Ou temos uma alta concentração de renda entre poucos super-ricos? Ou ambos?

A comparação com outros territórios pode nos trazer informações relevantes para compreendermos as características da nossa alta desigualdade. O Banco Mundial tem uma compilação de estatísticas relevantes e comparáveis internacionalmente sobre o desenvolvimento global, os chamados World Development Indicators (WDI). A partir desses dados, podemos fazer uma comparação da desigualdade de renda do Brasil e da Europa, por exemplo.

Os gráficos apresentam a porcentagem da renda apropriada por cada quinto da população. Imaginemos que o Brasil tem apenas cinco pessoas e vamos ordená-las da mais rica para a mais pobre. Nesse cenário, a mais pobre detém 4% da renda total do país, a segunda mais pobre, 8%, a terceira, 12%, a quarta, 20% e a mais rica, 57%. Na Europa, os resultados seriam 8%, 13%, 17%, 22% e 40%, respectivamente.

Já sabemos que a Europa é menos desigual que o Brasil, mas será que o tipo e a forma da desigualdade são diferentes? A resposta é sim.

Ao observar como a renda é distribuída, os primeiros quatro números avançam com um crescimento e tendência similar. A diferença do gráfico é ampla no último quinto, ou seja, na concentração de renda entre os mais ricos.

Enquanto os mais ricos europeus concentram 40% da riqueza, menos que o dobro do quinto anterior, os mais ricos brasileiros concentram 57% da riqueza, quase três vezes a renda do quinto anterior.

Isso quer dizer que se cortássemos o último quinto do Brasil e da Europa, as desigualdades ficariam mais parecidas entre ambos. No entanto, se cortássemos o primeiro quinto, a diferença permaneceria.

Portanto, ao se discutir não o tamanho, mas o tipo de desigualdade, a concentração de renda entre os 20% mais ricos no Brasil salta aos olhos. A nossa desigualdade não está espalhada por toda a distribuição; ela é mais acentuada do que a europeia, pois os ricos brasileiros concentram muito mais renda.

Quais são as implicações para a política pública desse tipo de desigualdade? Esse deveria ser um problema mais simples de resolver, considerando que os mais ricos geram arrecadação e não demandam políticas públicas, enquanto os mais vulneráveis precisam de políticas sociais.

Uma desigualdade mais aguda entre os mais pobres demandaria mais políticas públicas e gastos e, na ausência de grandes arrecadações dos ricos, a situação ficaria complicada.

Podemos observar esse tipo de desigualdade como uma grande oportunidade: a concentração da riqueza entre os mais ricos pode se tornar arrecadação. Para isso se tornar realidade, precisaríamos de um sistema de tributação que incidisse efetivamente sobre os mais ricos.

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