A escola brasileira e o preparo para os desafios da vida adulta

O mundo do trabalho vem passando por várias transformações recentemente. De um lado, o aumento da escolaridade, envelhecimento da força de trabalho e crescente presença feminina mudaram a composição da oferta de trabalho. Do outro, novas tecnologias para produzir bens e serviços e modelos alternativos de contratação e remuneração têm transformado os postos de trabalho tradicionais e criado novos tipos de emprego, com novas atividades e atribuições.

Estas transformações impactam o tipo de preparação que a juventude precisa para conquistar e manter seu espaço no mundo do trabalho. Pesquisas recentes mostram que as competências socioemocionais têm sido cada vez mais valorizadas num contexto em que automatização substitui cada vez mais competências técnicas e específicas.

Apesar do grande avanço no acesso ao ensino médio, a formação oferecida pela escola brasileira à juventude parece ter pouca conexão com esta nova configuração da sociedade.

A despeito de a legislação que regula a educação expressar claramente que é papel da escola, também, preparar os jovens para enfrentar tais desafios, a realidade mostra que ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Dados coletados pelo Lepes da USP (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação e Economia Social), em 2022, em parceria com o Itaú Educação e Trabalho, com mais de 7.000 estudantes de 3º ano do ensino médio em escolas públicas de cinco redes estaduais mostram que pelo menos 25% destes jovens não sabem como preparar um currículo enquanto cerca de 30% não sabem como começar a procurar um emprego.

Os dados são ainda mais preocupantes se levarmos em conta a meta 12 do Plano Nacional de Educação (2014-2024) que inclui alcançar uma taxa bruta de matrícula no ensino superior de 50% da população de 18 a 24 anos. Pelo menos metade da população nesta faixa etária precisa estar preparada para uma trajetória que não passe, necessariamente, por outra etapa de educação, se for este o seu plano.

É preciso reconhecer várias iniciativas recentes que mostram que nossa política educacional tem se voltado também para o ensino médio.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), homologada em 2017, trouxe diretrizes para substituir currículos "conteudistas" rumo a um modelo pedagógico voltado ao desenvolvimento de competências como centro do processo de aprendizagem.

Debates sobre a estrutura curricular e carga horária, como a proposta do Novo Ensino Médio, focam na possibilidade de dar ao estudante a oportunidade de escolher trilhas temáticas e construir um projeto de vida, aproximando o mundo da escola às decisões da vida adulta. Por outro lado, as resistências enfrentadas e as dificuldades de implementação encontradas mostram que ainda é preciso ampliar o debate e buscar compromissos para tirar do papel ideias que vão na direção correta.

No entanto, ainda persistem críticas no sentido de que o papel da escola é formar cidadãos e não qualificar a mão de obra. O que essas críticas ignoram é que preparar para o mundo trabalho é também formação para a cidadania.

Uma escola que prepara o jovem para os desafios da vida adulta é aquela que o ajuda a transitar de contextos mais protegidos para um mundo mais incerto e sujeito a cobranças. E que o ajuda a desenvolver as ferramentas necessárias para conquistar e manter um trabalho digno. E que o ajuda a construir e perseguir um plano coerente com seus valores.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da 💥️Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Tiago Ferraz foi "Help!", dos Beatles.

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