Montagem de Hedda Gabler respeita diálogos de peça com sutilezas

Tornou-se uma espécie de lugar-comum na cultura brasileira dizer que Chico Buarque capturou a alma feminina em suas canções como nenhum outro compositor. Grosso modo, o mesmo se poderia de Henrik Ibsen quando o assunto é teatro. Grande mestre do drama moderno, o autor norueguês perscrutou o caráter feminino, criando grandes papéis de mulheres complexas e multifacetadas. Uma delas é "Hedda Gabler", atualmente em cartaz no teatro do Masp.

Nessa peça publicada em 1890, Ibsen leva adiante sua investigação sobre a desigual relação entre os sexos. Naquela que talvez seja sua mais conhecida criação —"A Casa de Bonecas"— uma mulher oprimida e infeliz no casamento resolve abandonar sua casa em busca de liberdade.

O enredo trivial para os dias atuais, causou escândalo ao questionar as normas de uma sociedade machista. Mas "Hedda Gabler" leva todos esses conflitos a um ápice sem saída. Nos apresenta uma personagem sofisticada, manipuladora, inteligente. Presa em um casamento sem amor e à monotonia da vida doméstica.

Quem traduz e dirige a montagem atual é Clara Carvalho. Como atriz, ela esteve em "Espectros" e "O Inimigo do Povo", duas peças da maturidade de Ibsen. Em "Hedda", a diretora vale-se não só de sua intimidade com o autor, mas de seu grande conhecimento da linguagem e da estrutura do drama burguês. Constrói uma encenação segura, respeitando os tempos e a força dos diálogos.

É difícil contar e sustentar uma histórica trágica em tempos de banalização do sofrimento. O sarcasmo da protagonista ajuda a manter o prumo e a atenção do espectador. Muito à vontade na pele da controversa personagem, Karen Coelho entrega uma performance que é um dos pontos altos da criação.

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