Política de vexame

Ainda circula nas redes a cena em que Bolsonaro entrega a Milei sua medalha de "imorrível, imbrochável e incomível", com um dos filhos tentando traduzir os termos para o espanhol. Pode-se perguntar por que reportar uma baixaria dessas, quando a memória coletiva já está saturada dos episódios repugnantes a cargo de ambos. Mas o ato recente ocorre num quadro de estresse de variáveis essenciais da vida política, levado além do que seria normal chamar de zona crítica, e pelo visto peça de uma estratégia.

Antecedentes: Milei trocou a cúpula do Mercosul pelo festival em Camboriú, numa provocativa violação dos protocolos de Estado. Isso soa irrelevante na Argentina de hoje, onde se normalizou um hiato entre a atividade de uma camarilha de estrategistas políticos e a obsessão presidencial em transformar a economia num laboratório de ciência própria, supostamente para tirar o país da crise. Nada a ver com resgatar da miséria o povo, que nela mergulha cada vez mais, e sim assegurar a continuidade do sistema à hegemônica correlação de forças financeiras.

Nas crises, o ecossistema capitalista admite uma "fascioesfera", um buraco negro da moral, que oscila entre a violência e o grotesco. Daí o cambalacho de dar corda à alucinação protofascista de um presidente com boa ressonância popular, desde que fixado em seu real interesse: a experiência de uma economia neoliberal extremista, vigiada de perto pelo FMI. A principal estrategista política, além de um jovem conselheiro, é sua irmã, mediadora do diálogo com Conan, o cachorro já falecido. Os estrategistas econômicos fingem de cachorro morto.

O que você está lendo é [Política de vexame].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...