Física do crime

Se a física com suas fórmulas e números longos parece uma coisa complicada, as ciências sociais são muito mais. É que o reducionismo, isto é, a possibilidade de quebrar um fenômeno complexo em elementos mais simples para entendê-lo, funciona melhor nas ciências exatas do que nas que envolvem seres humanos. Átomos são comportamentalmente mais consistentes do que pessoas.

A dificuldade não é motivo para desistir. Mesmo em fenômenos multifatoriais complexos como a criminalidade é possível identificar tendências e encontrar oportunidades de intervenção.

A boa notícia no recém-divulgado 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública é que as mortes violentas intencionais continuam em queda. Em 2023, houve redução de 3,4% em relação a 2022. Parece pouco, mas há que se considerar o efeito cumulativo. Em relação a 2017, ano de recorde dos casos, a queda já é de 27,7%.

Se não ocorrer nenhum desastre, a tendência deve se manter. Há uma razão demográfica. Violência interpessoal é coisa de homens jovens, que são majoritariamente autores e vítimas desses homicídios. Isso significa que o envelhecimento populacional, algo já contratado, atua como redutor desses óbitos.

Nas localidades em que se registraram aumentos, eles estão muitas vezes associados a disputas entre facções criminosas. Essa é uma oportunidade de intervenção. Se reduzirmos o poder das quadrilhas, eventualmente recorrendo até à legalização das drogas, é possível que a violência sofra um baque. Não vemos executivos da Ambev travando tiroteios com funcionários da Seagram.

Outros dados de violência são ainda mais intrigantes. Uma das explicações para o aumento nos registros de estupro, por exemplo, encerra um paradoxo. Se a sociedade fica mais intolerante em relação a esse tipo de crime, o que é positivo, um efeito é a ampliação das denúncias —o dado a que temos acesso e que não guarda relação direta com o número real.

O que você está lendo é [Física do crime].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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