Como criar modelos de futuro

Em período eleitoral, o futuro cai na boca do povo. Diversos institutos divulgam suas estimativas, enquanto agregadores geram metatendências, a partir do reprocessamento desses resultados, levando em conta a relevância do instituto, o método utilizado e outras coisas mais.

A grande referência atual é Nate Silver, que abandonou a consultoria para jogar pôquer, no início dos anos 2000, mas ganhou notoriedade pela precisão de suas estatísticas, inicialmente para baseball e depois para política.

Em seu livro mais famoso, "O Sinal e o Ruído", de 2012, o estatístico americano destacou sua predileção pela inferência bayesiana, um método que atribui probabilidades condicionais a eventos e as atualiza conforme novas informações surgem. Embora não seja a abordagem tradicional em neurociências, meu campo de origem, a considero a mais relevante para refletir sobre ocorrências futuras no mundo social e tecnológico, áreas em que o conhecimento prévio e a flexibilidade para atualizar crenças são indispensáveis.

Nate se tornou mundialmente conhecido em 2008, quando previu com precisão o resultado das eleições nacionais americanas em 49 dos 50 estados. Ele cravou novos acertos em 2012 e em várias outras ocasiões, usando uma metodologia adaptada das ciências biomédicas.

No momento da publicação deste artigo, atribui mais de 65% de chance de vitória a Donald Trump sobre Joe Biden nas eleições deste ano, uma previsão que precisa ser tomada com cautela dado que o candidato democrata pode mudar, especialmente após trocar o nome de sua vice pelo de seu concorrente e chamar Zelenski de Putin, justamente quando precisava provar que não está sofrendo de demência.

Entre as várias boas ideias de Nate, está a noção de que os elementos usados em projeções mudam com o tempo. Em uma corrida eleitoral, por exemplo, indicadores econômicos são apenas informativos quando o pleito está distante. À medida que este se aproxima, as pesquisas de opinião tornam-se predominantemente determinantes.

Outra ideia importante é a distinção entre previsões e estimativas, sendo as previsões abertas a múltiplos desfechos e as estimativas definidas estatisticamente a partir de opções específicas. Conforme esclarece em seu livro de 2012, ele prefere se ocupar dessas últimas.

Ocorre que os desafios em que criar opções é essencial costumam superar em relevância aqueles em que a cartela de desfechos é definida de antemão. Em geral, problemas mais imediatos tendem a ser tratados com as opções disponíveis, enquanto problemas projetados para anos à frente são enfrentados de forma mais criativa, utilizando estratégias que mitiguem as chances de concretização dos piores prognósticos.

Um exemplo é o aquecimento global. Uma pesquisa com especialistas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) mostrou que quase 80% projetam que a temperatura subirá 2,5°C em relação aos níveis pré-industriais durante este século, sendo que muitos preveem um aumento de 3°C. Este último valor é considerado o ponto de virada, a partir do qual as consequências, dramáticas, irão se tornar irreversíveis.

Esses números não representam estimativas no sentido em que Nate Silver as concebe, mas sinalizadores da necessidade de mudanças produtivas e comportamentais para evitar que o prognóstico se materialize. Se você fizer um levantamento com autores de artigos que indicam subida de 3°C, provavelmente encontrará alguns com planos de ter filhos.

O que você está lendo é [Como criar modelos de futuro].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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