Povo não compra dólar, como diz Lula, mas come dólar

Daqui até o fim de agosto haverá oportunidades de superar o tumulto que contribuiu para encarecer o dólar e elevar ainda mais as taxas de juros.

  1. Nos EUA, mais gente passa a chutar que o Fed, o banco central deles, deve começar a cortar juros em setembro. A manada vai outra vez para o lado otimista. Em março, a manada nos atropelou;
  2. Na semana que vem, o ministério da Fazenda apresenta a revisão bimestral de arrecadação e despesas. Vai dizer que é necessária alguma contenção de gastos a fim de cumprir metas. Ajuda se reforça a ideia de que as metas não vão para o fundo do copo de vinagre;
  3. Até o final de agosto, o governo tem de enviar o Orçamento de 2025 ao Congresso. Quanto mais comedido e preciso em previsão de gasto e receita, melhor.

A taxa de juros e o preço do dólar no Brasil dependem, em parte, do nível da taxa de juros nos EUA, o que por sua vez depende parte de expectativas de inflação. No opiniômetro financeiro, acredita-se agora que a inflação irá aos poucos dos 3% ao ano de maio para a meta de 2%.

A taxa básica de juros americana não deve ser talhada já na reunião de 31 de julho. Mas, no fim deste mês, o Fed pode dar sinais de que o arrocho vai diminuir. As taxas de mercado cairiam.

Seria um alívio por aqui, caso não houver mais bobagem doméstica. Juros e dólar voltaram a aumentar em março, então quase apenas por causa da mudança de ventos nos EUA.

Lembrete: o dólar ficou pela casa de R$ 4,95 no primeiro terço daquele mês. A taxa de juros de um ano baixara a 9,75% ao ano (está em 10,88%, depois de bater em 11,4% no início de julho, maior ainda que a Selic).

O dólar está acima de R$ 5,20 desde 3 de junho (média móvel de cinco dias); acima de R$ 5,40 desde 19 de junho. Um mês de estrago não é lá grande coisa. Se terminar o ano ainda em R$ 5,22, como ora chuta "o mercado", não vai ser bom.

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"O povo mais pobre, o povo mais humilde, quando tem um pouquinho de dinheiro, ele não compra dólar, ele compra comida", disse Luiz Inácio Lula da Silva a empresários nesta terça-feira. Não compra dólar, mas come dólar na forma de preço de alimentos, influenciados por cotações internacionais. Dólar mais caro também tende a prejudicar investimentos (a importação de máquinas etc.).

Aparentemente, Fernando Haddad conteve o incêndio de junho e convenceu o governo a aceitar contenção de despesas. A ver o que vai dar.

Banqueiros têm dado apoio ao ministro, em declarações públicas e privadas cada vez mais frequentes. Empresários maiores e até vários dos que vociferavam contra impostos baixaram o tom. Um BC mais comedido na falação pode ajudar. Há tentativas de acalmar o ambiente.

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O ambiente, porém, não está calmo. No início de março, nas projeções de economistas compiladas pelo BC, a Selic iria a 9% no final do ano (agora, ficaria em 10,5%). O dólar estaria em R$ 4,93. Se o leitor não acredita na estimativa, pense que tais valores são uma espécie de preço que os donos do dinheiro estão inclinados a cobrar. Na prática, é o que interessa.

Como está evidente, essas projeções viram como birutas, a depender do vento da finança lá fora, aqui dentro, do crédito do governo e até de estimativas de crescimento. No entanto, é mais fácil quebrar um vaso do que colar seus pedaços. O vaso fiscal, já avariado, quebrou de novo entre maio e julho.

Lula disse também que a economia pode crescer 2,5% neste ano. Pode. Não é grande coisa, dada a feia necessidade no Brasil, mas é quase o dobro do ritmo mais alto que se viu no país entre 2013 e 2023, antes da epidemia.

Para crescer mais, de modo duradouro, o país tem de resolver muito problema. Mas, no curto prazo, 2,5% ajuda bem. Não fazer bobagem também ajuda.

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