O ovo com gema mole e a certeza da morte

Sonhei que estava morrendo.

Não tinha medo. Sentia tristeza e culpa.

Triste e culpado por não poder consertar os erros do passado. Por todos os planos que esbocei e nem tentei realizar. Por nunca ter conseguido dizer tudo o que tinha para dizer –a gente sempre pensa que tem algo muito importante a dizer.

Não lutava, me deixava levar. Sabia que brigar com a morte seria estupidez.

Penso na infalibilidade da morte quando leio as recorrentes manchetes sobre os minutos de vida que me rouba cada copo de cerveja. Cada torresminho oleoso. Cada vez que me rendo à preguiça e cabulo a academia.

As redes sociais renovaram o fôlego dos trombeteiros do apocalipse, dos arautos do terror alimentar. Da galera que fatura grana ou popularidade disseminando o medo de morrer na próxima garfada.

A garfada derradeira, pregam os profetas do piriri letal, pode vir com ovo malpassado. A temerária gema mole.

Explica-se: as bactérias do gênero Salmonella, que vivem nas entranhas da galinha, podem contaminar seus ovos. Para matar o bicho, é necessário cozinhar o ovo até ele atingir a temperatura interna de 70 ºC –ponto em que a gema já ficou irremediavelmente dura e seca.

Gemas líquidas ou cremosas trazem riscos: contaminação, infecção, desidratação severa. E adivinha o quê? Morte, aquela que fatalmente baterá às nossas portas algum dia.

O que você está lendo é [O ovo com gema mole e a certeza da morte].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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