Mulheres relatam dor na colocação do DIU, mas método contraceptivo cresce entre brasileiras

O uso do DIU (Dispositivo Intrauterino) aumentou entre as brasileiras nos últimos cinco anos. As colocações por plano de saúde subiram 47% entre 2023 e 2023, de acordo com dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). No SUS (Sistema Único de Saúde), o número de inserções chegaram a 164,4 mil em 2023, um aumento de 43,6% em relação a 2022, diz o Ministério da Saúde.

Mesmo assim, médicos ouvidos pela Folha relatam hesitação sobre o método por parte de algumas pacientes que apontam o medo da dor como uma das principais causas. Já relatos por parte de mulheres que colocaram o dispositivo são mistos.

Nos Estados Unidos, vídeos de reações das pacientes durante o procedimento viralizaram nas redes sociais, muitos mostrando experiências dolorosas. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do país atualizou suas recomendações para médicos neste mês, mencionando o uso de anestesia local para amenizar a dor.

A influenciadora e biomédica esteta brasileira Camila Morikawa, 24, postou sua reação sobre a experiência. No vídeo, ela aparece chorando e relata que sua pressão caiu durante o procedimento. "Na hora que eu deitei na maca, minha perna tremia", contou à Folha. "Foi muito triste, foi bem dolorido. Na hora que a médica colocou o pontinho de anestesia doeu um pouquinho a picadinha da agulha, mas na hora que ela introduziu o DIU, nossa senhora!" Mesmo assim, ela diz que recomendaria a colocação.

O choro foi também a reação da estudante Kemilly Kathleen de Oliveira, 20, que não sabia que o procedimento era doloroso, nem que havia opção de usar um anestésico. Ela diz que postou sobre a experiência nas redes sociais para ajudar outras meninas. "Desde que a médica começou a medir o útero, eu senti muita dor. Quando ela colocou o DIU, eu gritei tanto, doeu tanto, que o hospital todo me ouviu", diz. "Recomendo que todas pesquisem a clínica onde vão colocar e escolham um médico que passe confiança."

Já para a influenciadora Stephanie Sato, 25, o procedimento com anestesia local e um calmante foi tranquilo e a dor foi média. "Sabe aquela profissional que te deixa muito à vontade? Acho que isso foi o diferencial", diz. "Minha experiência foi excelente, colocaria novamente. Mesmo que doa, vale a pena."

A colocação DIU é considerada um procedimento invasivo por penetrar uma cavidade do organismo. Ela pode ser feita em consultório, com ou sem anestesia local, ou com sedação no hospital. O procedimento hospitalar é oferecido apenas na rede privada.

O dispositivo com o formato da letra T ou de ferradura é inserido dentro do útero e tem duração de cinco a dez anos, com uma eficácia de 98% a 99%. Na rede pública de saúde, é mais comum encontrar DIUs de cobre, ou cobre e prata. No privado, são comuns também os SIUs (sistemas intrauterinos), conhecidos como DIUs hormonais, Mirena e Kyleena.

A dor durante a inserção tende a ser tolerável, de acordo com um estudo de 2022 feito por pesquisadores da UFPB (Universidade Federal da Paraíba). Analisando as experiências de 139 mulheres com idade entre 14 e 47 anos na zona metropolitana de João Pessoa, 9,4% não relataram nenhuma expressão de dor e 31,7% uma dor intensa.

Numa escala de 0 a 10, o escore médio de dor foi 5,5 entre as pacientes menstruadas e 4,6 entre as não menstruadas. Mais de 20% das pacientes relataram sintomas de náusea, vômito, tontura, sudorese ou tremor durante a colocação.

No geral, mulheres que já passaram por dores intensas ou pariram três ou mais filhos tendem a relatar menos dor, diz a médica de família e comunidade Danyella da Silva Barrêto, coautora do estudo. Já mulheres que nunca tiveram filhos tendem a relatar dores mais intensas, e as com dismenorreia (dor forte que pode surgir antes ou durante a menstruação) tendem a sentir dor com mais frequência.

É possível que a experiência dos profissionais de saúde inserindo o dispositivo, assim como a presença de alguém que supervisione a inserção, torne o procedimento menos doloroso, diz a médica. Já um acompanhante durante o procedimento pode amenizar ou piorar a percepção de dor da paciente, dependendo do seu comportamento.

Um outro estudo de 2023 analisou a efetividade do analgésico cetorolaco de trometamol para amenizar a dor em 23 mulheres de 28 anos no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE). Não foram encontrados benefícios.

A maioria das pacientes do estudo relatou dor leve durante o procedimento. Esse resultado pode estar relacionado à habilidade de aplicação do profissional de saúde que fez as aplicações, o mesmo para todas as mulheres participantes, explica o médico generalista e residente de anestesia Emídio Dias, coautor da pesquisa.

"Ainda não existe evidência suficiente para dizer que o analgésico funciona, mas alguns estudos indicam que há uma diferença, só não tem importância estatística porque as amostras são pequenas", diz Dias.

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Experiente em aplicações na rede pública, Barrêto diz que os recursos são limitados, por isso só usa anestesia local para pacientes com tolerância menor à dor. As evidências indicam que cloridrato de lidocaína, injetado no colo do útero, não alivia por completo, mas ajuda, explica a médica.

Ela acha que uma sedação geral, a única maneira de bloquear por completo a dor, não é justificável para a rede pública, já que encarece o procedimento e aumenta o risco de infecção, além de dificultar o acesso da população ao procedimento. "Quando a gente começa a colocar muita coisa ao redor do DIU, como pedir muitos exames ou dizer que só pode colocar menstruada, dificulta o acesso."

Em nota, a ANS diz que a colocação do DIU e SIU solicitada pelo médico tem cobertura obrigatória pelos planos de saúde, incluindo o uso de anestesia local ou sedação, se houver indicação do profissional. Em caso de dificuldades, a agência diz para o usuário procurar sua operadora e, se a questão não for resolvida, registrar uma reclamação.

Como amenizar a dor na colocação do DIU

O preparo psicológico e o acolhimento são indispensáveis para o procedimento, diz o professor de ginecologia e cirurgião Agostinho Machado, coautor do estudo do HC-UFPE. A paciente também precisa de espaço para externar suas dúvidas. "Existem técnicas para oferecer uma inserção que seja confortável, bem aceita e prática no ambulatório. De maneira muito humana, muito empática, a gente recebe, conversa, brinca e pede uma vocalização", diz o médico, explicando que pede para as pacientes "cantarem" no momento da inserção.

Dias completa: "A dor é uma experiência muito sensorial. Quando a paciente está tensa e atenta ao estímulo, com certeza piora bastante a experiência dela".

Quanto mais informada sobre o procedimento estiver, menos pior é a experiência, diz Barrêto, da UFPB, que chama a conversa com as pacientes de "anestesia verbal". "É importante tirar todas as dúvidas, esclarecer o que é real ou não, explicar que será doloroso sim, dizer que podemos parar o procedimento em qualquer fase", esclarece.

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