Não há inocentes

Quando soube do atentado contra Donald Trump, acho que bocejei. Não é desrespeito. É sensação de déjà vu. Como fingir que estou espantado quando não estou?

Há aqui razões históricas e razões circunstanciais que explicam o meu "spleen".

Historicamente, é justo reconhecer que aquele pessoal sempre gostou de matar, ou de tentar matar, presidentes.

Quatro foram eliminados com sucesso —Lincoln, Garfield, McKinley, Kennedy. Vários sobreviveram por milagre, como Theodore Roosevelt, em 1912, ou Ronald Reagan, em 1981.

Aliás, em que outro país do mundo haveria um musical —sim, você leu bem: um musical da Broadway em que os personagens principais são os assassinos dos presidentes?

O musical é brilhante porque escrito por uma mente brilhante: Stephen Sondheim, um dos meus heróis. O título é, simplesmente, "Assassins" e junta nove criminosos em canções primorosas.

Uma delas, intitulada "Unworthy of Love", é um dueto belíssimo entre John Hinckley Jr. —que tentou matar Reagan— e Lynette Fromme —que tentou matar Gerald Ford. Ambos dedicam as suas árias aos ídolos que amam obsessivamente e que, nas suas particulares cabeças, serviram de inspiração para o crime: Jodie Foster, no caso de Hinckley, e Charles Manson, no caso de Fromme. Apesar de tudo, Hinckley tinha bom gosto.

Mas é a canção final, "Another National Anthem", que resume o espírito da obra: os assassinos reúnem-se, ufanos, para reclamarem o seu prêmio pelos serviços prestados à nação. Mas não há prêmio; só infâmia. O crime não resgatou as suas vidas miseráveis.

O que você está lendo é [Não há inocentes].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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