Vivemos uma crise civilizatória?

Vivemos uma crise civilizatória? Acho que não. A questão é mais complexa do que pensa nossa vã propaganda política. A expressão "crise civilizatória" me parece mais clara como marketing de ideias do que como conceito, daí ser tão útil na polarização em ambas as margens do rio.

Um reparo epistemológico —não acho que exista nenhuma definição simples de "civilização". A definição, nesse caso, ocuparia um livro de no mínimo 200 páginas —o livro "Grammaire de Civilisations", do historiador Braudel, seria um bom começo para o leitor atento.

Aliás, como dizia Pascal no século 17, existem palavras do uso corrente que é melhor nem tentar definir, porque atrapalha a comunicação. "Civilização" cai como uma luva nesse reparo epistemológico pascaliano.

Suspeito que a expressão seja um caso pouco analisado de utopia pura e simples. Aliás, creio que a imensa maioria das pessoas que usa a palavra "civilização" o faz dentro desse caso de utopia, quando não com intenção de autopropaganda política pura e simples.

"Civilização é uma sociedade que vive por valores." Essa frase chega a ser hilária de tão absurdamente imprecisa. A palavra "valores" em si não merece tanto crédito assim, para além do uso quando falamos no valor do dólar em relação ao real.

Não que não possam existir comportamentos positivamente valorizados num grupo social, mas, sim, que essa valorização "não segura muita água", como se fala em filosofia em inglês, querendo dizer que não fica muito tempo de pé.

A realidade "para além dos valores" costuma sempre vencer no dia a dia, entre pessoas e entre nações. Os advogados são a prova cabal da nulidade dos valores.

O que você está lendo é [Vivemos uma crise civilizatória?].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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