Documentário Orlando, de Paul B. Preciado, é carta a Virginia Woolf

Engana-se quem espera que "Orlando: Minha Biografia Política", de Paul B. Preciado, atenha-se aos pactos do gênero biográfico e narre de forma linear e bem-comportada o início, meio e fim de uma vida. Assim como engana-se quem lê a primeira frase de "Orlando: Uma Biografia", de Virginia Woolf, —"Ele, pois não havia dúvida quanto ao seu sexo"— e espera que não haja de fato dúvida.

O documentário do filósofo espanhol, que estreia em São Paulo nesta quinta-feira (4), é, antes de tudo, uma carta à romancista inglesa, pioneira do pensamento feminista e da literatura experimental. "Escrever minha biografia, Virginia, é também descer com Orlando à escuridão", diz Preciado, o missivista, que não escreve nem filma sua biografia. Mas a de muitos.

No filme, entre leituras de trechos de "Orlando" —romance de 1928 cujo/a protagonista atravessa séculos, mapas, sexos e gêneros— homens trans, travestis, pessoas não binárias, mulheres trans e drag queens narram suas histórias e corpos com sinceridade e poesia enquanto encarnam Orlando e as personagens principais do romance.

Esta sinceridade dos relatos e sua variedade, por vezes até didatizados pelas análises que Preciado faz da vida e obra de Virginia, é o grande trunfo do filme, que passa a ter ares de "Jogo de Cena", de Eduardo Coutinho, em que ficção e realidade intercalam-se de maneira fluida e teatral.

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