Mortes: Dedicou a vida aos pobres e levou vítimas de homofobia à igreja

Quando fez 40 anos, em 1993, o jornalista Pedro Fávaro Júnior ganhou de sua esposa, Sônia, um jogo de taças de vinho de cristal. O xodó pelo presente foi tanto que ele brincou: "A vida é delicada assim. Quando a última taça se quebrar, é o fim da linha para mim."

No começo a família achou graça. Mas a cada taça que se quebrava, ficava aquela interrogação. Será?

Convicto de suas ideias, fez da palavra seu maior e melhor instrumento, desde a juventude. Escritor de peças de teatro com o amigo Tadeu Gomes e de poesias que cabiam até no papel do chiclete que mascava, se enamorou aos 17 anos pela moça de cabelos escuros. Fez versos. Mas duas semanas depois, Sônia, muito direta, lançou: "Quais são suas intenções comigo?"

Pedro não titubeou: "Quero ter uma família." Casaram-se em 1976, em Jundiaí (SP), onde ele nasceu e viveu. Funcionário do IBGE para garantir o diploma na Fundação Armando Alvares Penteado, Pedro treinou sua escrita e escuta. Ao longo da trajetória profissional, trabalhou em veículos como os jornais O Estado de S. Paulo e Gazeta Mercantil.

Antes, teve escala nos veículos de comunicação de Jundiaí. Foi repórter e editor dos jornais Diário do Povo e Correio Popular, em Campinas, no qual fez amigos para a vida inteira, como Álvaro Kassab. Ao lado do "irmão", como o chamava, Pedro entregou seus últimos trabalhos como editor do Jornal da Unicamp, entre 2023 e 2024, já em tratamento do câncer metastático de próstata diagnosticado em 2023.

Filho do ex-prefeito Pedro Fávaro, escolheu fazer justiça social em outra frente: a Igreja Católica, tanto que em 1998 se tornou diácono. "Sigo Jesus dos pobres. Abomino fundamentalistas", avisava.

Pedro foi um dos criadores da Comunidade Diversidade e Fé, para acolher pessoas LGBTQIA+ apartadas da igreja e levar para lá vítimas de homofobia.

Sua maior missão —além de criar ao lado de Sônia os seus três filhos— foi exercer seu ministério ao lado dos moradores de rua e dependentes químicos. A convivência com eles inspirou o livro "Freguês", um dos três publicados por Pedro, também escritor.

"Quando Pedrinho chegava a um lugar, todo mundo parava para ouvir o que ele tinha a dizer", conta José Cotrim, voluntário com quem Pedro levava comida às praças da cidade. Mas era mais que pão. Era o verbo.

Cinco dias antes de morrer pediu, abraçado aos filhos, em sua cama: "Quando meu Chefe me chamar, quero que vocês primeiro rezem, pois dediquei mais da metade da minha vida à minha crença. Depois comam, bebam e cantem. Celebrem a vida!"

O funeral de Pedro foi uma celebração pela qual passaram aproximadamente 500 pessoas entre católicos, evangélicos, umbandistas, prefeito e ex-prefeitos de direita, centro e esquerda, fiéis da paróquia onde atuou como diácono (e foi velado), moradores de rua, jornalistas e uma fila de filhos e irmãos do coração, que adotou por sua caminhada.

Antes de encerrar a missa de corpo presente, o bispo da Diocese de Jundiaí, dom Arnaldo Carvalheiro, afirmou: "Eu não tenho autoridade para canonizar ninguém, mas arrisco dizer que Pedro viveu na santidade."

A última taça quebrou. Pedro Fávaro Júnior morreu na noite do dia 28 de junho aos 70 anos, do jeito que desejou: em sua cama, cercado de amor, após uma jornada que foi muito além da hormonioterapia, quimioterapia, radioterapia, hemodiálise e uma batalha judicial com o plano de saúde para conseguir a medicação necessária.

A finitude proporcionou conversas com a esposa, filhos, família e amigos sobre morte, vida, saudade, tristeza, alegria, raiva, medo, amizade, solidariedade, empatia.

Deixa a esposa Sônia, os filhos Tatiana, Mariana e Pedro Neto, o genro Plínio e os netos Helena e Francisco.

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