Click-bait do pastor Valadão continua funcionando

Na semana passada, o pastor André Valadão, da Lagoinha Church, viralizou nas redes sociais ao dizer: "Se a faculdade vai acabar com a vida do seu filho, manda ele vender picolé na garagem, mas não manda ele para a faculdade".


Há mais de dez anos interajo regularmente com evangélicos, tanto por trabalho como por amizade. Mesmo assim, foi difícil entender por que parte desse grupo aplaudiu ou se calou diante de uma pregação que debocha de quem quer estudar.


Mas, desempacotada com tato e sem preconceitos, essa fala pode iluminar —e talvez ajude a superar— a condição pantanosa que marca hoje a relação entre o campo evangélico e as forças democráticas do país.

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Primeiro, devemos reconhecer que o que Valadão disse está alinhado aos ensinamentos do Evangelho. Em Marcos (8:36), está escrito: "Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?". Para eles, há um paraíso à espera de quem abdica de confortos para se manter fiel à Bíblia.


Nosso preconceito fica exposto quando sugerimos que quem acredita nisso seja intelectualmente fraco. Evangélicos continuarão majoritariamente suscetíveis ao pânico moral que a nova direita instiga na sociedade enquanto essa atitude intolerante se mantiver.

Reconhecer isso não é o mesmo que aplaudir a fala de Valadão. Precisamos ser mais astutos e responsáveis para identificar o click-bait que pastores como ele incorporam em suas pregações. Eles nos provocam a expor essa intolerância.


O caminho para sair desse ciclo vicioso é ficarmos mais próximo dos evangélicos, em vez de nos distanciarmos deles. Para, com a ajuda deles, expor como Valadão prega o evangelho segundo Olavo de Carvalho mais do que o de Jesus.


Porque a visão da universidade como um antro de perdições é olavista; o protestantismo protegeu e promoveu a ciência. Harvard, a universidade que Valadão visitou recentemente com sua família, foi fundada como uma instituição educacional protestante.


Mas o que Olavo de Carvalho apontou não é fruto de uma imaginação delirante. Evangélicos, em geral, preferem manter sua religiosidade no armário do que se expor ao bullying cruel no ambiente acadêmico.
Especialmente nos cursos de humanas, essa postura compromete a percepção da universidade como um espaço que promove a convivência com o contraditório e o diferente.


Mas o medo que Valadão instiga também não é "de Deus", para usar um termo evangélico. Porque, conforme ensinam meus interlocutores, o papel da igreja é fortalecer o cristão para que ele habite todos os espaços e seja o sal da terra. E não se contente em vender picolé em garagem, como o pastor propôs.


spyer

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