O que se sabe sobre os protestos contra a covid na China que pedem por renúncia de Xi Jinping
Manifestações se intensificaram neste fim de semana após incêndio que matou 10 pessoas em bloco de apartamentos no oeste do país — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
Os protestos contra as restrições pela covid na China se intensificaram neste fim de semana, na sequência de um incêndio que matou 10 pessoas num bloco de apartamentos em Urumqi, capital da região autónoma de Xinjiang Uyghur, no oeste do país.
Milhares de pessoas foram às ruas de Xangai para lembrar as vítimas e protestar contra as restrições. Muitos dos presentes exigiram a renúncia do presidente Xi Jinping.
A BBC presenciou pelo menos três pessoas sendo levadas em carros da polícia.
Muitos apontam o confinamento em prédios como a causa das mortes no incêndio.
Embora as autoridades chinesas neguem que essa tenha sido a causa, as autoridades de Urumqi emitiram um raro pedido de desculpas na sexta-feira (25/11), prometendo "restaurar a ordem" removendo gradualmente as restrições.
No protesto em Xangai, a maior cidade da China e centro financeiro mundial, algumas pessoas foram vistas acendendo velas e deixando flores para as vítimas.
2 de 5 Grande presença policial pôde ser vista nas ruas de Urumqi na manhã deste domingo (27) — Foto: GETTY IMAGES/via BBCGrande presença policial pôde ser vista nas ruas de Urumqi na manhã deste domingo (27) — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
Outras entoavam slogans como "Xi Jinping, renuncie" e "Partido Comunista, renuncie". Algumas também seguravam faixas em branco.
Manifestações como essas são incomuns na China, onde qualquer crítica direta ao governo e ao presidente pode resultar em duras represálias.
Um manifestante disse à BBC que ficou "chocado e empolgado" ao ver as pessoas nas ruas, dizendo ser a primeira vez que via dissidência em larga escala na China.
Ele também disse que os confinamentos o deixaram "triste, com raiva e sem esperança" e o impediram de ver sua mãe doente, que estava em tratamento contra um câncer.
Outro manifestante disse à BBC que os policiais foram questionados sobre como se sentiam sobre os protestos e a resposta foi "como você". Mas, ressalvou ele, "eles usam seus uniformes, então estão fazendo seu trabalho".
Alguns manifestantes relataram atos de violência, com um deles dizendo à agência de notícias AP que um de seus amigos foi agredido pela polícia no local, enquanto outros dois atingidos por spray de pimenta.
Embora a situação na área tenha se acalmado na manhã deste domingo, a BBC notou um aumento da presença policial na área do protesto, com várias dezenas de policiais, seguranças particulares e agentes à paisana nas ruas.
3 de 5 Muitos deixaram flores nas ruas para lembrar vítimas do incêndio — Foto: GETTY IMAGES/via BBCMuitos deixaram flores nas ruas para lembrar vítimas do incêndio — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
Em outros lugares, em várias universidades chinesas, fotos e vídeos de estudantes protestando na noite de sábado foram divulgados nas redes sociais. A maior parte dos manifestantes parecia estar concentrada na Universidade de Comunicações de Nanjing.
Os vídeos dos protestos são difíceis de verificar de forma independente, mas muitos deles retratam críticas explícitas e abertas ao governo e seu líder.
Os protestos são o mais recente capítulo de uma série de manifestações contra as medidas de "covid zero" da China.
Esses protestos têm sido cada vez mais ousados, tanto em críticas ao governo quanto ao presidente Xi Jinping.
A estratégia de covid zero é a mais recente política desse tipo entre as principais economias do mundo e se deve em parte aos níveis relativamente baixos de vacinação da China e ao esforço para proteger os idosos.
Os lockdowns de última hora provocaram raiva em todo o país, e restrições mais amplas provocaram protestos violentos recentes de Zhengzhou a Guangzhou.
Apesar das medidas rígidas, o número de casos na China esta semana atingiu a máxima histórica desde o início da pandemia.
4 de 5O incêndio de Urumqi foi um cenário de pesadelo para muitos chineses que se viram sob restrições generalizadas nos últimos meses, trancados em seus apartamentos, segundo alguns relatos.
As autoridades contestaram essas alegações, mas isso não impediu que a indignação e a ansiedade do público se espalhassem.
O incidente tornou-se o mais recente ponto de inflexão na crescente frustração dos chineses. Milhões estão cansados de três anos de restrições de movimento e testes diários de covid.
5 de 5 Durante protestos, gritos foram ouvidos exigindo renúncia de Xi Jinping — Foto: GETTY IMAGES/via BBCDurante protestos, gritos foram ouvidos exigindo renúncia de Xi Jinping — Foto: GETTY IMAGES/via BBC
A raiva se espalhou por todos os cantos da China, das grandes cidades às regiões remotas como Xinjiang e Tibete, e galvanizou todos os setores da sociedade, incluindo jovens universitários, operários e cidadãos comuns.
À medida que essa raiva cresce, os protestos contra as medidas contra a covid se tornam cada vez mais comuns. Mas mesmo as manifestações deste fim de semana são incomuns neste novo normal, tanto em número quanto na franqueza de suas críticas ao governo e ao presidente Xi Jinping.
Ir às ruas em massa com centenas de pessoas pedindo a renúncia do presidente Xi era considerado impensável até pouco tempo atrás.
Mas depois de um recente protesto dramático em uma ponte de Pequim que chocou muitos, um precedente parece ter sido estabelecido para a expressão de uma discordância mais aberta e contundente.
Outros também optaram por agitar a bandeira chinesa e cantar o hino nacional, cuja letra defende os ideais revolucionários e exorta o povo a "se levantar, se levantar".
É uma demonstração de patriotismo que também pode ser lida como uma expressão de solidariedade aos compatriotas chineses que sofrem com a política de covid zero de Xi e um apelo à ação.
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