‘BC fica entre a cruz e a caldeirinha’, diz Gustavo Loyola sobre aumento da Selic

Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e sócio da Tendências Consultoria

“Banco Central fica entre a cruz e a caldeirinha”, diz Gustavo Loyola (Imagem: Marcelo Ferreira/CB/D. A. Press)

O 💥️Comitê de Política Monetária (Copom) do 💥️Banco Central (BC) deve anunciar nesta quarta-feira (15) mais um aumento da 💥️taxa básica de juros. A expectativa do mercado é que seja uma alta de 1 ponto percentual, que elevará a 💥️Selic de 10,75% para 11,75%.

Há um ano, em março de 2023, os 💥️juros estavam na sua mínima histórica, na casa dos 2%, após uma sucessão de quedas que tiveram início no governo do ex-presidente 💥️Michel Temer (MDB), sob a gestão de 💥️Henrique Meirelles na Fazenda e 💥️Ilan Goldfajn no BC.

Para 💥️Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria e ex-presidente do Banco Central (1992-1993 e 1995-1997), a instituição já havia sinalizado a continuidade do processo de elevação da taxa de juros, ainda que com uma redução no seu ritmo.

Em entrevista ao 💥️Money Times, ele lembra que com o início da 💥️guerra entre Rússia e Ucrânia e a alta do preço das 💥️commodities, além dos próprios números de 💥️inflação que continuam “bem salgados”, alguns analistas passaram a cogitar a possibilidade de uma alta de 1,5 p.p., o que aumentaria a Selic para 12,25%.

O economista não descarta essa possibilidade, no entanto, julga ser improvável e aposta em uma taxa de juros em 11,75%, dentro de um ciclo de altas que pode se estender ainda mais.

“A elevação da taxa de juros pode se estender mais, por mais tempo, o que quer dizer que a Selic no final do ciclo possa ser maior do que estava sendo considerado anteriormente, tendo em vista a inflação corrente e uma piora nas expectativas, assim como as incertezas adicionais por conta da guerra”, diz.

‘Entre a cruz e a caldeirinha’

O mercado pondera que o momento é de incerteza no cenário global, principalmente por conta da 💥️guerra na Ucrânia, que já se estende por 20 dias.

Por isso, também espera cautela por parte do Banco Central no que diz respeito à alta da taxa de juros. Justamente por isso, Loyola acredita que o aumento deve ser de 1 ponto percentual, e não de 1,5.

“O Banco Central fica entre a cruz e a caldeirinha. Se ele dorme no ponto e fica atrasado, depois tem que correr atrás e isso é muito mais negativo para a economia, porque ele vai ter que fazer altas mais fortes de juros. Se ele se adianta muito, de repente amanhã a guerra acaba, o 💥️petróleo cai para US$ 80. É uma situação em que as incertezas pedem cautela”.

“É a mesma coisa que dirigir em uma estrada. Quando ela está muito acidentada, você diminui a velocidade, mas continua a frente com os seus objetivos. O Banco Central deveria neste momento fazer o que já se programou para fazer. Acho que se eu estivesse lá, essa seria a minha posição”.

Inflação x Selic

Selic; dinheiro; inflação

Aumentar a taxa básica de juros é uma forma de frear a escalada da inflação (Freepik)

Dados divulgados pelo 💥️IBGE na última sexta-feira (11) mostram que a inflação para o mês de fevereiro foi de 1,01%, 0,47 ponto percentual acima do registrado em janeiro (0,54%). Foi a maior variação para um mês de fevereiro desde 2015.

Com isso, no ano, o 💥️Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 1,56% e, nos últimos 12 meses, de 10,54%.

Ainda que o Banco Central aumente a Selic como forma de frear a escalada da inflação — visando “desaquecer” a economia, reduzindo o consumo — as altas continuam acontecendo.

Para Loyola, no entanto, esta é a solução que pode ser tomada pelo BC.  “Do ponto de vista e política monetária, não vejo outra alternativa. Claro que política monetária não é só taxa de juros, tem que ter algumas ações que são fundamentais. A inflação brasileira tem uma característica que é ter uma alta influência da inflação passada. Existe uma ✅‘inércia inflacionária’ no Brasil que a gente não vê nos outros países. Essa inércia inflacionária coloca um papel adicional para o BC, que torna mais a desinflação mais demorada”, avalia.

O economista diz que cabe à instituição evitar que determinados “choques” gerem inflação. Ele cita como exemplo o encarecimento das tarifas de 💥️energia, em decorrência da diminuição de chuvas e, consequentemente, do nível dos reservatórios.

“O que o BC pode fazer? Dizer que tem que tabelar a energia? Tem que economizar energia, e a maneira de fazer isso é aumentando o preço. O que o BC tem que fazer é evitar que este aumento se transforme em uma inflação. Não tem nada que o Banco Central possa fazer em relação ao [preço do] petróleo? Não, não tem o que fazer. Eu acho que é essa gestão de demanda que o Banco Central pode fazer, e o instrumento mais eficaz para isso é por meio da taxa de juros”.

Responsabilidade fiscal

As projeções têm indicado um cenário econômico complicado para 2022, principalmente se a inflação for utilizada como termômetro.

A última edição do 💥️Boletim Focus, divulgada na segunda-feira (15), mostrou mais um salto na projeção do IPCA, de 5,65% para 6,45%.

O aumento veio após os reajustes anunciados pela 💥️Petrobras (💥️PETR4) para o preço dos 💥️combustíveis em suas refinarias, resultado da alta exponencial do 💥️do barril do petróleo, que na semana passada chegou a ultrapassar os US$ 130.

O economista diz que o que se pode fazer é receita já conhecida e que continua valendo: sinalizar responsabilidade fiscal. Ele pondera, no entanto, que uma série de medidas, tanto de iniciativa do Legislativo como do Executivo, têm ido na direção contrária, o que posiciona o Brasil perante o mundo como um país de risco.

“O Brasil é percebido como um país mais arriscado. Na ponta, isso significa uma taxa de juros mais alta. O que eu acho que é um caminho de reação à crise é que tem que ser um caminho que preserve a nossa situação fiscal e que não agrave esse problema”.

Loyola usa de exemplo a medida que está sendo avaliada pelo governo para subsidiar os combustíveis por três meses e que pode custar até R$ 30 bilhões aos cofres públicos.

Para ele, seria uma política de pouca efetividade; um verdadeiro “tiro no pé”, bem como também seria interferir na política de preços da Petrobras.

Eleições 2022

urna eletrônica; eleições

Para Loyola, algumas medidas que estão sendo anunciadas são explicadas por “interesses eleitoreiros” (Jeso Carneiro / Flickr)

As 💥️eleições deste ano devem apresentar um cenário polarizado. De um lado, o 💥️ex-presidente Lula (PT) é mostrado como o primeiro nas pesquisas de intenção de voto.

O petista deve anunciar a sua pré-candidatura, com 💥️Geraldo Alckmin como vice em sua chapa, ainda no mês de abril.

Do outro lado, os levantamentos mostram o atual presidente da República, 💥️Jair Bolsonaro (PL), que deve tentar a sua reeleição, em segundo lugar.

Loyola destaca que algumas medidas como o furo do teto de gastos ou mesmo o adiamento do pagamento de precatórios, além de um possível subsídio para os combustíveis, deterioram a situação das contas públicas e o arcabouço fiscal, sendo explicadas por interesses eleitoreiros.

Aqui, ele vê tanto o 💥️poder Executivo como o 💥️Legislativo envolvidos nesse processo, ainda que não se possa falar por todos os parlamentares.

“A gente tem vários atores políticos interessados tão somete no resultado eleitoral. O próprio presidente da República se encontra nesta situação. Acho que o mais importante hoje para Bolsonaro é a reeleição. O ministro da Fazenda [hoje, da Economia, 💥️Paulo Gudes] fica em uma situação muito difícil. Ele sabe do risco isso pode trazer”.

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