Amsterdã dá um chega pra lá em turistas atrás de sexo e drogas
Andreas Kirchhoff
22/07/2023 13h33
Um jovem turista de Newcastle, Inglaterra, conta que foi passar as férias ali para fumar a erva e se divertir. Por isso está esperando pelo Smokeboat, no pier do canal Oudezijds Voorburgwal. Nesse passeio de barco especial, ele e uma dúzia de outros visitantes têm uma hora para conhecer os pontos turísticos e consumir marijuana legalmente.
Outro inglês veio para uma feira de jardinagem, e agora está aproveitando o dia livre para visitar o Bairro da Luz Vermelha. De baseado na mão, ele admite estar ciente que consumir maconha em público é ilegal, mas não achava que haveria policiais no local para impor multas.
💥️Farristas não são bem-vindos
Nesse dia quente de julho, o centro histórico está fervilhando: parece quase tão lotado quanto antes da pandemia de covid-19. Afinal, Amsterdã não é um destino de turismo atraente só para os amantes das baladas: suas singelas casas e canais do século 17 são Patrimônio Mundial da Unesco, e seus museus estão entre os mais importantes do mundo.
Em 2023, a municipalidade limitou em 20 milhões o volume de pernoites por ano, a fim de gerir melhor o afluxo de viajantes. Mas número é só um dos problemas da capital: mais preocupante para as autoridades locais e muitos moradores é o incremento dos festeiros que vagam à noite pelas estreitas ruas do centro, fazendo baderna.
Para combater o excesso de turismo de farra, em fevereiro impuseram-se novas normas, inclusive uma lei determinando que bordéis de vitrines, bares e pubs do Bairro da Luz Vermelha fechem duas horas mais cedo. No mês seguinte, a cidade também lançou a campanha Stay away (Fiquem longe), para coibir os visitantes arruaceiros.
A iniciativa, voltada primordialmente para os turistas britânicos entre 18 e 35 anos de idade, incluía uma série de vídeos curtos ilustrando noitadas que deram errado, indo terminar na delegacia ou no hospital. Uma consulta mostrou que os visitantes do Reino Unido, notórios por suas despedidas de solteiro desbragadas, são especialmente propensos ao consumo indiscriminado de marijuana.
Nesta sexta-feira (21/07), ecoando medidas já adotadas por Veneza, a prefeitura da capital holandesa anunciou que proibirá os navios de cruzeiro de aportarem no centro, e vai fechar o terminal no rio IJ, perto da estação ferroviária. Segundo os políticos locais, as gigantescas e poluentes embarcações não se alinham com as metas de sustentabilidade da cidade.
💥️"Chega de doideira"
Els Iping, da iniciativa de moradores Stop de Gekte (Chega de doideira), acha que tais campanhas e pequenas mudanças são bons passos iniciais, mas nem de longe suficientes para modificar a situação geral. Ela lembra que no centro histórico, transformado em ponto quente de turismo, também moram cidadãos comuns.
Vivendo em Amsterdã há 40 anos, por diversas vezes Iping teve que limpar o vômito de turistas bêbados em sua escadaria de entrada. Ela reclama que tantos vão ao centro, não para admirar a beleza da velha cidade, mas à busca de "prostituição, cafeterias e traficantes de drogas", e rejeita a ideia de que o consumo liberal de cânabis e prostituição sejam simplesmente parte de Amsterdã.
"Os bordéis de vitrine existem desde a década de 1960, mas quando me mudei para cá ainda eram só um fenômeno periférico, na época havia muitas outras lojas e negócios aqui. Hoje em dia é tudo sexo, drogas e fast food."
Durante um período, os próprios integrantes da Stop de Gekte faziam rondas na vizinhança. Trajando coletes amarelos de alta visibilidade, eles abordavam turistas baderneiros para informá-los que a cidade antiga é lar de gente comum que precisa de seu repouso noturno. A maioria dos turistas reagia com compreensão e se desculpava.
Recentemente a iniciativa suspendeu suas rondas. Segundo Iping, os estabelecimentos locais, agora forçados a fechar duas horas mais cedo, culpam os participantes por suas perdas financeiras, hostilizando-os e insultando-os.
💥️Adeus, Bairro da Luz Vermelha?
Geerte Udo, diretora da companhia de marketing Amsterdam & Partners, afirma que a cidade é tão conhecida que ela não precisa fazer mais nenhum trabalho de divulgação. Ao mesmo tempo, reconhece que os excessos do turismo de massa se tornaram um problema nos últimos anos: "Em qualquer cidade, você deve respeitar a cultura local. Pode ser que a gente tenha perdido isso um pouco de vista nos últimos 10, 15 anos."
A prefeitura pretende combater os transtornos do turismo de farra não só com proibições e normas, mas também alterando a estrutura urbana. Há anos são apresentadas propostas para interditar aos turistas o consumo de maconha e relocar a prostituição para outras áreas.
Assim, até o fim de 2023, um novo "centro erótico" para trabalhadoras do sexo deverá ser inaugurado num subúrbio da capital. Mas tanto residentes quanto as profissionais se opõem ao projeto, argumentando que a localização na periferia prejudicará seu meio de subsistência e aumenta o perigo a que as mulheres estão expostas à noite.
Quanto às cafeterias, os cidadãos estão exigindo que a municipalidade simplesmente aplique as leis da Holanda. Segundo esta, cânabis só pode ser vendida a quem reside no país - uma restrição que a capital tem contornado sistematicamente.
A batalha contra o turismo do sexo e drogas é longa e árdua. Mas com o efeito das novas regras, como a redução dos horários de abertura em duas horas, Els Iping está bastante satisfeita: "A gente que vive aqui, no coração do Bairro da Luz Vermelha, tem notado que ficou um pouco melhor, principalmente à noite."
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