Prefeito de Lisboa é acusado de boicotar memorial da escravidão

Catarina Demony

da Reuters, em Lisboa

03/07/2023 09h54

Proposto há mais de cinco anos pela Associação dos Afrodescendentes de Portugal (DJASS), o memorial — que consistiria em fileiras de cana-de-açúcar pintadas de preto — deveria ser erguido no Campo das Cebolas, uma praça central perto do rio Tejo, em Lisboa.

Do século 15 ao 19, seis milhões de africanos foram sequestrados e transportados à força por navios portugueses e vendidos como trabalhadores escravizados, principalmente para o Brasil. Mas pouco se ensina nas escolas sobre o envolvimento de Portugal na escravidão e seu passado colonial é amplamente visto como motivo de orgulho.

O memorial, financiado pelo conselho da cidade, foi aprovado como parte do orçamento da cidade para 2017-2018, mas a construção vem sendo adiada desde então. O DJASS disse em comunicado na sexta-feira que os obstáculos foram criados, incluindo a solicitação de menos cana-de-açúcar e mudanças nos materiais de construção e no orçamento.

O gabinete do prefeito não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Carlos Moedas, de centro-direita, foi eleito prefeito em 2023, mas o processo de erguer o memorial só foi retomado em setembro do ano passado.

Naquele momento, o gabinete de Moedas citou ainda faltar o aval da Direção-Geral do Patrimônio Cultural (DGCP) e da Empresa de Estacionamentos de Lisboa (EMEL). De acordo com o DJASS, o gabinete do prefeito disse em abril que a DGCP e a EMEL não tinham dado a sua aprovação, significando que o memorial estava localizado em outro local.

A prefeitura propôs um novo local para o memorial, em um lugar que a DJASS descreveu como uma rua estreita que dá acesso a um cais e a um parque de estacionamento perto do terminal de cruzeiros de Lisboa.

O DJASS disse que a prefeitura estava lidando com o memorial de "forma negligente e desrespeitosa" e a acusou de adotar uma estratégia de boicote ao projeto.

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