Comida em extinção: por que café, trigo e até vinho podem sumir das mesas
Pode reparar: no supermercado, ainda que a oferta possa parecer cada vez maior, há pouquíssima variedade de cada alimento, se pensarmos que muitas frutas e legumes possuem centenas de tipos. Quantas espécies de maçãs alguém pode comprar na quitanda da esquina?
Saladino diz que aprendemos a escolher entre "a" e "b" (às vezes também "c") como se isso fosse algum poder de decisão. "Não é. Embora tenhamos uma ideia de abundância, geneticamente nossa alimentação está mais limitada do que nunca", disse ele em uma palestra no congresso Diálogos de Cozinha, realizado em San Sebastián (Espanha) — um dos poucos eventos da gastronomia a colocar o dedo em algumas feridas importantes.
Acontece que, com as mudanças climáticas e uma possível doença fúngica mortal, o nosso cafezinho como conhecemos pode estar com os dias contados. E pouco se tem feito (pelo menos em escala comercial) para garantir que não falte cafeína na nossa xícara no futuro.
Saladino chegou a uma variedade conhecida como stenophylla, que tem maior tolerância ao calor, maior resistência a certos patógenos fúngicos e ótimo sabor. Há apenas um problema: é incrivelmente raro e, até recentemente, os cientistas acreditavam que estava extinto, já que não estava sendo consumido.
✅Menos espécies disponíveis pode significar problemas bem sérios para a nossa alimentação a médio e longo prazo", explica o jornalista, que é apresentador de um podcast sobre alimentação na BBC inglesa.
💥️Tour pelo mundo
Para entender como nossa alimentação se tornou tão restrita do ponto de vista da biodiversidade, Saladino visitou produtores, ativistas e cientistas da Bolívia ao Japão, da Tanzânia ao Cazaquistão.
Em suas viagens, ele contou sobre o botânico russo Nikolai Vavilov, que viajou todo o mundo em busca de espécies em perigo de extinção, e um cofre de sementes construído em Svalbard, no Ártico, que mantém um banco genético de milhares de espécies.
Os "Queveri", grandes recipientes de barro feitos para fermentação de vinho, têm sido usados desde o século VI na Geórgia
Em suas pesquisas, Saladino também viajou para a Geórgia, país considerado o berço do vinho, e encontrou castas que quase desapareceram totalmente quando o país passou a fazer parte da União Soviética. Hoje, produtores tentam usar uvas como a Saperavi para resgatar a história do país.
No geral, o alerta do autor é para que passemos a considerar a biodiversidade como um caminho sustentável — e talvez, o único possível — para o nosso futuro como espécie.
"Todos os cientistas que conheço defendem que devemos lutar para recuperar a diversidade nos cultivos a nível global", ele alerta. Eu tenho certeza que não queremos um mundo onde todos ouvem as mesmas músicas, vestem as mesmas marcas, veem a mesma série".
"Com a comida é igual: queremos comer a mesma comida e que nossos agricultores, independente das condições e localidades que estejam, produzam alimento da mesma maneira?", pergunta.
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