Não há fundamentos para otimismo nas criptomoedas, mas preços poderão subir

Se para quem trata da economia real está ruim, quem trata de inovações financeiras descentralizadas, a situação é pior

💥️Por Jamil Civitarese/ysoke.com

Estatísticos são especialistas em usar métodos probabilísticos para analisar dados. Dessa forma, sem dados não há estatística. Para investidores, um ingrato problema vem dessa simples relação, afinal dados surgem com o tempo. Se você quiser, por exemplo, estudar a relação entre retornos de ativos financeiros e ciclos políticos, infelizmente não é fácil, posto que há eleições de apenas quatro em quatro anos.

É necessário agregar diversos países ou pegar apenas um país sem quebra em seu sistema político, algo extremamente raro (i.e. EUA e Inglaterra). Um fenômeno como o populismo de direita, por exemplo, precisará de mais tempo para ser estudado de maneira agregada, apesar de já estarem disponíveis estudos de evento. Ou seja, demoramos quase séculos para poder estudar com maiores os detalhes um fenômeno recorrente como eleições.

Se para quem trata da economia real está ruim, quem trata de inovações financeiras descentralizadas, a situação é pior. Contudo, nem todos percebem a nossa incapacidade de afirmar que uma determinada variável possui poder explicativo sobre o Bitcoin a longo prazo. Frequentemente descobrimos teorias que buscam entender reversões e picos em tendências de longo prazo para criptomoedas, mas há poucas observações para efetivamente testar essas consequências.

Por exemplo, se afirmamos que o valor de rede sobre transações tem relação inversa com o preço futuro, teremos apenas 120 meses para testar isso. Se houve mudanças no mercado, 120 pontos terão que ser segmentados e há ainda menor espaço para análises. Pouquíssimos métodos são robustos a pequenas amostras, portanto até agora não temos grandes garantias sobre o que é afirmado. Investir com base em qualquer indicador fundamental em criptomoedas é, ainda, um exercício de fé. Esses indicadores devem ser lidos como “condições favoráveis”, mas como não previsores.

Um paralelo válido seria com o mercado de câmbio. É evidente que uma moeda nacional se relaciona com a economia de um Estado-nação. Entretanto, mesmo com essa questão algo óbvia, há toneladas de artigos acadêmicos usando a mais fina econometria e aprendizado de máquinas para testar se há fundamentação na tese de “poder de paridade de compras” para concluir algo sobre tendências de longo prazo nesses ativos. Previsões de curto prazo também passam pelos mesmos problemas, e mesmo traders quantitativos precisam de técnicas razoavelmente complicadas para fazer previsões na média vencedoras. Se você se sente perdido no mercado de criptoativos, não se sinta sozinho: quem diz compreender tendências de longuíssimo prazo também está, apenas não descobriu ainda

Acredito que seja esse nosso maior problema no mercado. Muitos especialistas fazem previsões que podem até acontecer, mas não tem fundamento algum. O ser humano é espetacularmente bom em encontrar padrões, até mesmo quando eles não existem.

Quando envolve dinheiro e a promessa de retornos anormais, a promessa que padrões falsos trazem é tentadora: difícil de não se animar com outra bull run. Não desacredito que o mercado irá subir em algum tempo, porém não há avanços em fundamentos não-qualitativos que garantam isso. No mercado atual, mais que seguir fundamentos que ainda não sabemos se existem, precisamos gerenciar riscos corretamente. Se há a vontade de seguir alguma intuição, não há problemas em fazê-lo, desde que a posição esteja coberta, diversificada e que seja transparente para o investidor o que está sendo feito.

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