Sidnei Nehme: Pesado fluxo cambial de saída de recursos do país, sinaliza mudança da percepção!

Colunista traz perspectivas sobre o mercado financeiro com análise focada no câmbio

A despeito de virmos ao longo do semestre passado propagando mudança para ambiente econômico melhor com a perspectiva de aprovação da Reforma da Previdência, e até alguma perspectiva de que pudesse alterar as projeções negativas propagadas pelo mercado, via Boletim Focus, sinalizando que o mês de Junho passado poderia ser o marco divisório para a retomada do otimismo.

Junho como previsto confirmou a melhora perceptível com a recuperação da Bovespa e a depreciação do dólar frente ao real. Tudo dentro do previsível numa visão positiva.

Contudo, a última semana de Junho, face à divulgação da Ata do COPOM e manifestações das autoridades monetárias sinalizando revisão da projeção para o PIB deste ano de 2,0% para 0,8%, mais severa do que a mediana das projeções do mercado, e complementando com a percepção de que o 2º semestre deve ter desempenho econômico estagnado, e, isto, ao que tudo indica, teve um forte impacto no humor e na decisão dos detentores de passivos em moeda estrangeira.

A semana compreendida entre 24 e 28 de junho revelou expressiva saída de recursos do país, totalizando neste breve intervalo algo como US$ 13,9 Bilhões (US$. 4,9 Bi de importações e US$ 9,0 Bi financeiro), o que foi impactante e exigiu que o Banco Central do Brasil realizasse leilões de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, objetivando prover o mercado de câmbio à vista com adequada liquidez.

Os bancos que haviam encerrado maio com posições vendidas (descobertas) de US$ 22,099 Bi as elevaram para US$ 30,867 Bi ao final de junho.

A ação do BC conteve o retomado ímpeto do viés de alta do preço da moeda americana que vinha com viés de baixa, mas interrompeu a tendência que era firme de apreciação do real.

A taxa cambial passou a flutuar em torno de R$ 3,85 com discreto viés volátil de alta, estando presente a possibilidade de incremento do mesmo.

A conversão de dívida externa, mediante liquidação, em dívida interna ou pagamento com recursos próprios pelos detentores de passivos em moeda estrangeira em grande volume foi sinalizado de forma contundente pelo comportamento do mercado.

Este volume concentrado num curto espaço de dias permite que se admita que ocorreu uma mudança abrupta de percepção em relação à dinâmica da economia brasileira, para a qual contribuíram as manifestações do COPOM e das autoridades monetárias, que fizeram os detentores de passivos externos vislumbrar uma piora na percepção de de “risco” em relação ao Brasil.

Será relevante observar-se as semanas iniciais do mês de julho para que se tenha uma dimensão mais efetiva sobre este movimento, pois o mesmo pode, concomitantemente, estar determinando a interrupção do desmanche das posições “compradas não hedge” (especulativas) que estavam em andamento e reativá-las com fator de influência na formação do preço.

A nova percepção ressaltada pelo governo pode até estimular demanda adicional de “hedge” efetivo tendo em vista que o preço do dólar já não está tão fora do ponto e até fortalecendo um viés de alta do preço da moeda americana.

O fato concreto, perceptível e incontestável, é que houve uma mudança de humor dos segmentos Bovespa e câmbio após o “alerta e sinalização” realizada pelo próprio governo em relação às perspectivas para a atividade econômica no 2º semestre do ano e a mudança drástica da projeção para o PIB do ano.

Como temos salientado, ao governo cabe postura mais comedida em relação às projeções do mercado financeiro, pois o peso do seu ponto de vista tem maior impacto quando se coloca do lado negativo.

É difícil imaginar-se investidores privados incrementando seus investimentos com um cenário prospectivo para a economia estagnante, e, como bem salientaram os próprios representantes do governo, ao setor privado caberá o incremento dos investimentos, visto que o governo está sem condições de responder com investimentos públicos.

Não seria exagero admitir-se que a percepção ruim enunciada pelo governo tem maior peso no momento do que a própria questão da Reforma da Previdência.

Afinal, a Reforma da Previdência conterá os gastos governamentais para os quais não tem recursos para responder, mas o que determinará a impulsão da atividade econômica é o investimento privado, que pode ter sido desestimulado.

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