Café gourmet tem futuro incerto com crise de sucessão

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A preocupação de longo prazo dos torrefadores é que a oferta se concentre cada vez mais no Brasil e no Vietnã (Imagem: Marcello Casal Jr / Agência Brasil)

A família de José Guillermo Alvarez tem plantado café no sopé do vulcão Santa Ana, em El Salvador, há quatro gerações. A fazenda da família, Malacara, ganhou tanto prestígio que foi citada em um artigo sobre o país publicado em 1944 pela National Geographic. Hoje, seus grãos premium são famosos pelas notas de açúcar mascavo, chocolate e amoras.

Com a demanda global por cafés especiais em alta, a fazenda Malacara deveria estar colhendo os frutos de um renascimento. Mas Alvarez não sabe se o legado da família terá continuidade. Depois da queda dos preços do café, seu filho de 27 anos tem pouco interesse em assumir o negócio.

“As novas gerações não querem se envolver com o café”, disse Alvarez, de 62 anos. “Meu filho tem me acompanhado na fazenda desde que era muito mais jovem. Gostava de estar lá, mas não o suficiente para ser um profissional. ”

Em um momento em que os cafés gourmet caem no gosto dos consumidores, com paladar cada vez mais refinado, uma crise emerge entre os cafeicultores. A concorrência se tornou tão acirrada e os preços tão baixos, que a cafeicultura se tornou insustentável para muitos pequenos agricultores, levando os filhos adultos a evitar o negócio. As propriedades que foram herdadas ao longo das gerações agora enfrentam a perspectiva de não ter ninguém para assumir o negócio, deixando os proprietários com poucas opções a não ser fechar, vender as terras ou plantar outras culturas.

“O drama no campo é enorme”, disse Roberto Velez, presidente da Associação Colombiana de Cafeicultores. Em uma pesquisa recente, 68% dos líderes regionais de café do país disseram não ter jovens para ajudá-los a administrar as fazendas. A idade média dos cafeicultores subiu para 54,9 anos em comparação com 53 há três anos.

Pequenos agricultores têm sido pressionados pelo aumento da oferta no Brasil, que acelerou a produção nos últimos anos em consequência da elevada mecanização. Os cafeicultores brasileiros podem colher até quatro vezes mais café por hectare do que agricultores em países como El Salvador ou Nicarágua, onde os grãos são frequentemente colhidos manualmente por catadores ao lado de uma montanha. A desvalorização do real em relação ao dólar também deixou as taxas de câmbio menos favoráveis para outros países.

Os preços do café arábica passaram grande parte do ano abaixo de US$ 1 por libra-peso, atingindo o menor nível desde 2005. As cotações se recuperaram ligeiramente nos últimos dois meses, mas ainda estão bem abaixo do custo de produção de muitas fazendas, segundo Ric Rhinehart, diretor executivo emérito da Associação de Cafés Especiais.

“Os ganhos recentes tiveram pouco impacto para agricultores fora de algumas regiões geográficas, principalmente do Brasil”, disse Rhinehart. “A falta de interesse da próxima geração de cafeicultores potenciais continua inabalável.”

A questão da sucessão pode não ser notada imediatamente pelos consumidores, mas o setor & particularmente traders e importadores conectados ao que acontece nas plantações – avalia qual será o cenário em 10 ou 20 anos, disse James Watson, analista do Rabobank. A preocupação de longo prazo dos torrefadores é que a oferta se concentre cada vez mais no Brasil e no Vietnã, o maior produtor mundial da variedade robusta, comumente usada em produtos de café instantâneo.

Enquanto isso, pequenos agricultores refletem sobre qual será o papel do café em seu futuro, disse Michael Sheridan, diretor de compras da Intelligentsia Coffee. Com os preços em torno de US$ 1 por libra-peso, “fica muito difícil encontrar um argumento para convencer os jovens”, disse.

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