Convite ao movimento: da necessidade de se mexer para pensar algo novo
Pensei que o pensar exigia movimento quando acabava de chegar em Atenas, depois de uma longa e elíptica jornada pelos ares. Surpreendentemente pálida a paisagem se revelou aos meus olhos, e então percebi que as cidades têm cores. Atenas é branca. Tem um céu branco, um sol branco, refletido na vastidão de prédios brancos, todos baixos para não alongar sombras. Lembrei das cidades vermelhas que já vi do alto, com seus telhadinhos em tom carmesim, tão uniformes. Lembrei dos povoados azuis da planície argentina, oprimidos por um céu enorme. Lembrei da minha própria cidade cinza, lembrei sem lamento, pensando que o fundo cinza pode ser perfeito para uma explosão da vida em cores.
A cada passo naquela cidade branca sentia que se perdia às minhas costas o turbilhão de dizeres e notícias e histórias que temos chamado de realidade, sentia que tudo aquilo empalidecia e se fazia mais calmo. Dá-se neste exato momento, eu pensava, uma miríade de acontecimentos de imensa gravidade, acontecimentos urgentes e fundamentais, e no entanto todos eles prescindem em absoluto do meu olhar, prescindem da minha palavra. Cada passo deixava o vasto ruído um pouco mais para trás, cada passo me libertava da vigilância insensata que tenho dedicado ao mundo. Essa vigilância que tantos temos dedicado ao mundo, enquanto podíamos apenas caminhar e pensar, libertos de tanta realidade.
Quando subi à Acrópole, escalando a brancura das ruínas, pôs-se em xeque também a importância disso tudo que já não me importava. Sobre aquela colina com seus prédios erguidos há milênios, com os pés bem assentados na vastidão dos tempos, só o que eu pensava é como tudo o que vemos é efêmero e insignificante. Como restará de tudo nada mais que pó, alguma coluna que permaneça de pé, e umas tantas palavras esparsas. Ante a grandeza de um passado resistente, que sobreviveu à corrosão dos séculos, o presente fenece. O presente se ausenta do tempo e se faz instante ínfimo, muito menos relevante do que pensamos.
Cada pensamento, em todo caso, importava menos do que o simples fato de que pensava. E se pensava era porque me movia, e então me pus a compor mentalmente esta crônica que não quer ser nada mais que ágil e ligeira. "Com esses pequenos movimentos", quem disse foi Rubem Braga, "a gente disfarça um pouco a tristeza da vida. Este é pelo menos o meu sistema: a cura pelo movimento". A cura eu não sei se procuro, mas quero muito fugir ao torpor dos tempos, quero já não estar tantas vezes sentado, parado, prostrado. E convido o leitor, quem sabe, a romper comigo a inércia, o convido ao movimento, ao passeio pela imensidão de cores que nos cercam.
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