Robinho: O que times da série A fazem para evitar casos de violência sexual
Nas gravações, o jogador dá versões diferentes sobre o caso, chegando até a debochar da vítima e afirmando que seria necessário dar "um murro na cara dela".
Casos como os de Robinho, Cuca e do goleiro Bruno, também condenados, e do investigado por estupro Daniel Alves fazem parte do imaginário de quem acompanha e de quem não acompanha futebol.
💥️Mas o que leva cada vez mais jogadores de futebol para as páginas policiais quando o assunto é violência contra a mulher?
"Eles precisam saber que não é não", diz Ricardo Barros quando se refere aos atletas com os quais trabalha. Assistente social das categorias de base do Palmeiras, há cerca de um ano, ele lida com garotos de 16 a 18 anos.
O Palmeiras possui cerca de 300 jogadores de futebol em sua categoria de base masculina. Ali, para além do futebol, o clube desenvolve um trabalho que envolve trazer discussões sociais, como violência de gênero, para o dia a dia desses atletas.
Em conversa com especialistas, a reportagem buscou entender a importância que ações como essa têm para evitar que mais casos de violência contra a mulher envolvendo jogadores de futebol aconteçam.
💥️Ecoa entrou em contato com os 20 clubes que neste ano disputam a série A do Campeonato Brasileiro para entender como eles abordam o tema em suas categorias de base.
As respostas na íntegra dadas pelos clubes você pode conferir na reportagem especial "A Base Vem Forte?", publicada em Ecoa.
O técnico que comandava o time em 2023 era o mesmo Cuca que hoje está no Corinthians.💥️"Torcer para um técnico que desperta gatilhos do maior medo de todas as mulheres, que é o de violência sexual, é muito complicado", relata Aline.
O sentimento se repete, hoje, nas torcedoras corintianas, que desde o anúncio do novo treinador se posicionaram contra e protestaram tanto nas redes sociais quanto na frente do CT Dr. Joaquim Grava.
💥️Os atletas das categorias de base, por sua vez, são criados nesse contexto em que seus ídolos são frequentemente acusados de crimes contra as mulheres. E, nos centros de treinamentos, ficam confinados em um universo majoritariamente composto por homens.
Breiller Pires, jornalista e autor de matérias investigativas sobre os casos de abuso sexual em categorias de base, comenta que "nesse universo, a gente percebe que é muito enraizada a prática de colocar mulher como uma inimiga do jogador de futebol por influência de empresários, agentes e técnicos".
✅💥️O atleta pensa: 'Olha, cuidado que tem muita Maria Chuteira por aí, elas querem tomar seu dinheiro.' E vai galgando degraus na carreira, vai ganhando nome, e passa a ser incentivado a ser um comedor, alguém que vai sair com todas as meninas. 💥️Breiller Pires, jornalista
Segundo ele, ainda é impossível medir o tamanho do prejuízo criado para os atletas que vivem na bolha formada pelos seus clubes.
"Também há casos de todos que passaram por esse ambiente e não se tornaram jogadores. A gente nunca teve notícia do que fizeram fora do campo, das violências que cometeram ou dos abusos que sofreram nesse universo", diz Breiller.
Menino joga de azul, menina de rosa
Na CBF, as seleções de base feminina e masculina também pouco se encontram. Mesmo quando as convocações coincidem, as atividades são sempre feitas separadas, como conta Eliane Paim.
Para a professora, juntar meninos e meninas nas atividades educacionais poderia ser uma forma de abrir a cabeça dos garotos para as questões das mulheres.
E não é só Paim que pensa assim. 💥️"Há estudos mostrando que até certa faixa etária não há problema em fazer um futebol misto", diz Breiller Pires. Essa experiência já aconteceu no Fluminense, por exemplo.
De acordo com o clube do Rio, o futebol feminino divide as instalações de treinamento com os meninos. "Os atletas trabalham e sonham em jogar futebol lado a lado".
Para Pires, esse tipo de contato facilita a criação de um ambiente menos masculinizado.💥️ 💥️"Os clubes precisam ter mais mulheres em posição de comando. É uma mensagem muito potente para um atleta ter uma treinadora. Porque ali ele já percebe que está tudo bem receber ordens de uma mulher, por exemplo", diz.
Essas ações, contudo, poderiam ser a realidade não de um clube específico, mas de todos, caso a CBF coordenasse essas iniciativas, afirma o jornalista.
Outra solução proposta para a base dos clubes é promover a discussão sobre educação sexual no dia a dia e sem tabu. "Trazer esse assunto poderia evitar casos como o do goleiro Bruno", comenta Breiller, referindo-se a uma frase dita pelo ex-goleiro quatro meses antes de ser preso sob a acusação de ter participado do assassinato de Eliza Samudio: "Quem nunca brigou ou até saiu na mão com a mulher? Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, xará".
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