É possível incluir a luta antirracista na pauta ambiental?

Falando sobre contexto de desigualdade social, problema crônico desde o processo de colonização e exploração em nosso país, destacamos primeiro a cidade do Recife, capital pernambucana, que se configura na posição entre as três cidades mais desiguais da região Nordeste, com déficit habitacional de mais de 80 mil moradias e cerca de 206 mil pessoas vivendo em áreas de risco, de acordo com a prefeitura. Segundo, a cidade de Manaus, capital do Amazonas, que apresenta desde o início da série histórica em 2012, pelo levantamento do Observatório das Metrópoles, elevados índices de desigualdade entre as cidades da região Norte, e que possui um déficit habitacional de 105.587 mil moradias, 43 mil imóveis desocupados e cerca de 55 mil pessoas vivendo em áreas de risco, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nessas cidades, a agenda climática por prevenção e adaptação, a partir de medidas que garantam a redução de vulnerabilidades, se torna cada vez mais urgentes e necessárias pelo cenário global de intensidade e frequência dos eventos extremos destacados no último relatório do IPCC, mas tem avançado em passos curtos. Os jovens neste processo de mobilização e articulação têm apontado muitos retrocessos nos níveis das políticas subnacionais sobre o direito à cidade, como é o caso do Recife:

Uma vez que os mais ricos ocupam zonas arborizadas e cuidadas, como a recente construção do parque das Graças em um bairro elitizado do Recife, para os mais pobres é perversamente destinado ocupar as áreas marcadas por constantes deslizamentos e alagamentos no período chuvoso, escancarando o racismo ambiental presente na cidade, que culminou nas mais de 130 mortes ano passado. A tentativa de criação de uma diretriz de adaptação para a cidade é o plano Recife 500 anos, que busca, em tese, resolver as problemáticas estruturais do Recife, no entanto, vale ressaltar que tal medida não diz respeito a racialização dos corpos, tendo em vista que os negros são mais afetados pelos diversos problemas da cidade 💥️Camila Silva, Facilitadora do Grupo de Voluntários Greenpeace Recife

E em Manaus, a preocupação dos jovens se expressa através da alta possibilidade de aumento das consequências da crise climática na alimentação:

O que deixa a juventude manauara preocupada com as mudanças climáticas na região, é o que temos visto com o sol cada vez mais forte, a época de frutas se alterando e o comportamento dos rios não é mais o mesmo, as plantações morrem e a chuva não vem no tempo certo. Por aqui também temos a temporada de seca (vazante dos rios), que começa durante o verão amazônico, quando as cidades da região Norte observam os termômetros chegarem na faixa dos 40°C. Com períodos de três a quatro meses, é o momento em que as paisagens da Amazônia se transformam, com o surgimento de praias e bancos de areia que surgem em vários pontos dos rios Amazônicos que acabam prejudicando a navegação e o abastecimento de mercadoria em diferentes municípios do estado. 💥️Mayara Alves, Facilitadora do Grupo de Voluntários Greenpeace Manaus

Mayara também fala sobre a necessidade de mobilização e reivindicação por adaptação climática também se expressa mediante aos impactos direto com a população ribeirinha: "É necessário que o poder público em Manaus possa entrar em operação para mitigar os impactos da cheia que cada vez mais está acima dos níveis considerados normais e provoca inundações, transbordamentos, danos econômicos e humanitários às populações ribeirinhas e das zonas urbanas".

Por isso, a participação da juventude que está engajada e comprometida com justiça climática e medidas antirracistas de adaptação climática, principalmente do Norte e Nordeste deste país nos espaços de tomada de decisão é uma garantia de um olhar clínico, criativo e responsivo através de proposições e soluções que dialoguem com a diversidade dos territórios.

*Camila Silva, Facilitadora do Grupo de Voluntários Greenpeace Recife, Mayara Alves, Facilitadora do Grupo de Voluntários Greenpeace Manaus e Rodrigo Jesus, porta-voz de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil

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