Entorno de Gal suspeitava de violência psicológica: como ajudar amiga?
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Cristina Fibe
A questão é: como ajudar? O que podemos dizer ou fazer?
As histórias relatadas pela revista Piauí sobre o relacionamento amoroso e empresarial de Gal Costa com Wilma Petrillo são fáceis de julgar assim, à distância, depois de um levantamento detalhado e com dezenas de fontes.
Para quem não leu: em uma reportagem de 30 páginas, a Piauí reúne denúncias de golpes financeiros, assédio moral e ameaças praticados por Wilma, companheira de Gal por quase três décadas.
Amigos e ex-funcionários ouvidos pelo jornalista Thallys Braga relatam que o comportamento e os supostos crimes de Wilma foram entraves significativos na carreira de gAL, que ficou isolada, falida e com fama de não honrar seus compromissos.
Mesmo após sua morte, em novembro de 2022, Gal não teve atendido o seu desejo de ser enterrada no Rio de Janeiro, perto de sua mãe. Seu corpo foi colocado no mausoléu da família de Wilma Petrillo, no Cemitério da Consolação, em São Paulo.
À Piauí, o advogado da viúva afirmou que as acusações são "caluniosas, difamatórias e injuriosas, além de serem falsas e equivocadas". Wilma ainda não falou publicamente sobre o assunto.
Mas muita gente do entorno da cantora veio a público corroborar o teor da publicação. O clima entre amigos e parceiros de Gal é de tristeza: a maior parte deles suspeitava do que acontecia, observava os problemas na relação, mas não conseguia tirá-la daquela situação.
Está claro no texto e nos relatos de quem trabalhou com uma das maiores estrelas da nossa música: quem tentasse avisá-la do que acontecia pelas suas costas seria cortado, eliminado de sua vida.
Quem conseguiu permanecer o fez por escolha, consciente dos riscos. Superou o obstáculo Wilma para ficar e ajudar Gal, o que significava ajudar a própria música brasileira.
Para especialistas com quem conversei, é isso mesmo que devemos fazer: ficar por perto.
"Não tem receita de bolo, mas é importante se colocar disponível, não julgar, porque a pessoa tem que se sentir apoiada", diz Beatriz Accioly Lins, antropóloga especializada em violência contra mulheres. Ela pondera que muita gente se afasta por não saber como ajudar, "mas acaba tendo o efeito oposto, a pessoa fica mais sozinha e isolada".
Para voltar à pergunta inicial: amigos devem acolher, criar um ambiente no qual se possa falar sobre o que está passando, sem julgamentos. E lembrar que nenhuma relação começa violenta. Quando os crimes acontecem, a vítima já desenvolveu afeto pelo agressor (ou agressora). Fica muito mais difícil identificar os abusos. E, pior ainda, denunciá-los.
Accioly Lins ressalta que, pelo que traz a reportagem, "podemos ver sinais de violência psicológica, moral, patrimonial e física". Por isso mesmo, a antropóloga rejeita o rótulo de "relação abusiva" para um relacionamento potencialmente violento e criminoso.
"Acho importante nomearmos corretamente e com precisão. Abusivo tem um teor que parece sinalizar menos gravidade do que um relacionamento violento, em que há crime", afirma.
Por todos esses sinais, ainda é importante falar sobre essa relação, mesmo que alguns vejam nisso uma maneira de apagar o brilho da cantora. Falar de Wilma Petrillo é falar da herança de Gal e do futuro de seu filho, Gabriel. Falar de eventuais crimes dos quais foi vítima não é manchar sua história, mas pedir que, em nome dela, seja feita Justiça.
Esclarecer o que aconteceu é, sim, proteger o brilho e o legado da maior cantora do Brasil.
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