Bêbado, ele quis bancar o machão. Agora está com medo de ser preso
Bêbado, ele quis bancar o machão. Agora está com medo de ser preso
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Ana Canosa
E o conteúdo minha gente? Ele parecia ter sido tomado por algum espírito muito selvagem, enviando convites sexuais, descrevendo todas as práticas que pensava em realizar no ato com cada uma delas, sem que elas estivessem interagindo ou dando trela para o sexting.
Foi invasivo, pornográfico, indelicado, coisa que normalmente ele só faz sóbrio e quando tem intimidade. Ele não lembra em qual momento escreveu aquilo tudo, mas percebeu que tinha algo errado quando, no dia seguinte, entrou no seu perfil do Instagram e as mulheres estavam todas vociferando antes de bloqueá-lo definitivamente.
Ligou para os amigos, que para piorar a situação, lhe disseram que ele tentou passar a mão em uma moça com quem ficou na tal balada, ameaçou tirar a roupa e pulou o balcão do bar para beijar a bartender.
O tal macho escroto tinha surgido dos recônditos do seu inconsciente, mesmo ele não sendo esse estereótipo. Está comigo há mais de um ano e atesto que não é. Mas é, ora bolas, pois machismo estrutural habita as bases da formação identitária dos homens (e das mulheres também, diga-se de passagem).
Foi só o álcool amolecer o seu superego e ele perdeu qualquer compostura de macho consciente. "Estou com medo de ser preso", me disse. Tentei não ser dura, mas lembrei que, embora ele não tenha estuprado ninguém, a cena do crime é parecida com os recentes acontecimentos envolvendo jogadores de futebol. Música alta, bebida, local de azaração, amigos que não intervieram quando o colega estava perdendo as estribeiras. O cardápio de sempre, para dar ruim.
"O que deu na sua cabeça para beber desse jeito, como se não houvesse amanhã, e agir como um adolescente embriagado e cheio de tesão na festa da escola?", perguntei. Sei que pode parecer materno da minha parte, mas tem hora que paciente fica pedindo esse tipo de questionamento.
Avaliamos o quanto ele pode ter sido movido por uma certa afirmação da sua masculinidade, inconsciente, principalmente porque percebia a tentativa de controle de seus desejos por uma crush com quem estava saindo. Combateu a fantasiosa castração ativando a sua metralhadora fálica nas meias dúzias de mulheres com quem estava trocando mensagens e flertes. Caricato, eu sei.
Se há algo que incomoda quem está minimamente tentando ser um ser humano melhor, mais ético e digno é repetir o clichê, se deparando com as suas sombras e fazendo aquilo que critica nos outros. Agora não dá mais para se envaidecer da sua masculinidade desconstruída. O falecido psiquiatra Paulo Gaudencio tinha uma frase sensacional que repito para ele na sessão: "O autoconhecimento é libertador, mas sempre uma má notícia".
Marcelo, além de ter colocado tudo a perder com as suas crushes do momento, segue buscando, nas redes sociais, possíveis provas que possam incriminá-lo —vai que alguém gravou o beijo roubado ou printou as mensagens pornográficas antes que ele as tivesse apagado? Está sem dormir há uns dias, envergonhado, se sentindo o último dos homens. Motivo ele tem.
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