Do PT ao PL, mulheres se manifestam contra anistia a partidos

Rute Pina

De Universa, em São Paulo

Então percebeu como é difícil para uma mulher conseguir financiamento para disputar uma eleição.

A candidatura recebeu R$ 27 mil de recursos partidários, valor que considera insuficiente para viabilizar uma candidatura competitiva em uma capital. "Sempre ouvíamos que não tinha verba, que o valor do fundo já era determinado pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral]", lembra.

Como o dinheiro era pouco e a despesa, muita, não pôde interromper o trabalho para se dedicar à campanha. "Para me manter, continuei fazendo faxina até a véspera das eleições", diz.

Andreia de Lima - Reprodução - Reprodução Mariana Calsa - Divulgação - Divulgação Kênia Ribeiro - Reprodução - Reprodução Laiz Soares - Divulgação - Divulgação

Laiz Soares: "Partido não acreditava que eu poderia ser eleita"

Laiz terminou o pleito em terceiro lugar, com 21 mil votos. Os primeiros colocados tiveram 38 mil e 29 mil. "Com mais estrutura e recursos, teria tido mais chances de vencer a eleição", afirma.

No ano passado, ela concorreu à Câmara Federal e foi novamente derrotada. Também não recebeu a quantidade de dinheiro que julga suficiente para se eleger — embora conte ter chorado de felicidade e alívio quando a primeira parcela do fundo partidário caiu na sua conta bancária.

"No Brasil, o custo para eleger um deputado federal é de, em média, R$ 2 milhões. Das 91 mulheres eleitas, 81 gastaram acima de R$ 1 milhão. Ou seja, com menos deste valor não tem nem jogo. Às vezes, até se fornece dinheiro para as mulheres, mas nunca um número de gente grande. Não somos vistas como alguém que faz parte do jogo. Somos como um acessório", diz.

'Tempo necessário'

"Esta é a quarta anistia para os partidos que desrespeitaram leis de ações afirmativas. Em relação às cotas para candidaturas femininas e negras, é a segunda", enumera a cientista política Hannah Maruci, codiretora da Tenda das Candidatas.

Da outra vez em que houve a anistia, afirma Hannah Maruci, usou-se a mesma justificativa de agora: que os partidos não tiveram tempo hábil para se adaptar às novas regras, estabelecidas em 2018. Na opinião dela, as siglas "tiveram todo o tempo necessário".

Entre 2023 e 2022, a Tenda das Candidatas perguntou a 800 mulheres qual era o maior entrave para participarem da política institucional. Falta de recursos foi a resposta de 90% delas.

"As anistias criam a narrativa segundo a qual as leis voltadas para mulheres e pessoas negras não são importantes, não precisam ser cumpridas porque depois haverá um perdão. Num cenário em que mulheres lutam contra os partidos para conseguir o mínimo do que foi prometido para se candidatarem, isso é preocupante", diz.

Para a advogada Laura Astrolábio, diretora da Tenda, a PEC é inconstitucional — uma iniciativa para "fraudar cotas que são políticas afirmativas previstas na Constituição".

Antes de seguir para votação no plenário da Câmara e do Senado, a PEC terá o mérito discutido em comissão especial.

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