Médico sádico criou bico de pato; veja alternativas para o papanicolau
✅É muita gente sentindo dor em um procedimento comum. Isso, sem dúvida, nos dá um alerta de que este instrumental precisa ser reavaliado em todos os seus aspectos ergonômicos, de formas e funções
💥️Samanta Teixeira, pesquisadora de design pela Unesp
Teixeira é responsável pelo estudo "Problemáticas de Design do Espéculo Vaginal: Estudo sobre Irregularidades do Instrumento Ginecológico" que mostrou que:
- 84,2% das mulheres entrevistadas declararam que já sentiram algum tipo de desconforto no papanicolau.
- 31,5% sentiram a escala de dor entre 7 a 8 durante o exame em escala de 0 a 10
- 67% declararam sentir desconforto médio (escala 5) a extremo (escala 10).
- Pouquíssimas mulheres disseram sentir pouco ou nenhum desconforto com o uso do espéculo.
No entanto, o espéculo usado hoje é um instrumental obstétrico desatualizado —e é aqui que pode estar parte do problema.
Ele é usado de maneira parecida desde o ano 79 d.C, mas foi no final dos anos 1800 que foi perpetuado pelo médico estadunidense James Marion Sims (1813-1883).
💥️Seu protótipo foi feito às custas de experimentações e cirurgias sem anestesia em mulheres escravizadas afro-estadunidenses.
✅O controverso protótipo bruto de Sims, a colher de molho entortada, permanece culturalmente nos espéculos atuais vigentes, quer dizer, não foram desenvolvidos de acordo com um processo de design formal"
💥️Samanta Teixeira
Um dos casos mais conhecidos sobre a atuação do médico ocorreu com Anarcha Westcott, uma jovem escravizada de 17 anos que sofria de raquitismo e, por isso, tinha a pélvis desfigurada.
Após três dias sofrendo com a dor de um parto complicado pela condição de saúde que ela carregava, foi submetida como cobaia em experimentos ginecológicos.
"Ele realizava cesáreas, cortava a barriga das mulheres e fazia diversos procedimentos. Como já diziam as pesquisadoras dos Estados Unidos, ele era um médico ou um sádico? Porque tudo o que ele fazia nesses corpos acontecia repetidamente e sem anestesia", resgata Emanuelle Góes, doutora em saúde pública pela UFBA.
Sims acreditava numa teoria racista de que pessoas negras sentiam menos dor e não hesitou em realizar 30 procedimentos cirúrgicos sem uso de anestesia em Anarcha.
Emanuelle aponta na pesquisa "A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil" que essa percepção moldou o ensino da medicina e reflete até hoje nos atendimentos médicos.
O estudo mostra que as puérperas negras possuírem maior risco de terem um pré-natal inadequado, além de menos anestesia local quando a episiotomia (corte cirúrgico efetuado no períneo) foi realizada.
✅A gente não reconhece o racismo científico como uma prática que construiu a ciência da saúde. É reconhecer isso para mudar a condução do cuidado e da atenção às pessoas. Tudo está vinculado a essa ideia de humanidade hierarquizada"
Alternativas para melhorar a realização do exame
- Ter um atendimento humanizado torna a consulta ainda melhor.
- Existem diferentes tamanhos de espéculo, que podem ser facilmente comprados na internet ou em lojas especializadas.
- Os instrumentos menores são indicados para pacientes que não se sentem confortáveis com penetração.
- A paciente pode usar roupas leves e fáceis de tirar, como saias e vestidos.
- É indicado que o exame não seja realizado durante a menstruação.
- O exame pode ser feito a partir de um autoexame, no qual a própria paciente introduz o instrumento no corpo.
"A própria pessoa pode inserir o espéculo utilizando uma pequena quantidade de gel de ultrassom. Ainda é possível utilizar posições alternativas à ginecológica (com uso de perneira), com as pernas dobradas sobre a mesa ginecológica e os pés apoiados na maca", explica Carol Reis, 32 anos, ginecologista e obstetra.
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