Humilhação no trabalho, uma realidade feminina

Eu tinha 22 anos na primeira vez que fui humilhada no trabalho. Eu trabalhava numa dessas agências de publicidade grandes e metidas a legaizonas, com salas de vidro e vista para o mar, e um chefe divertido que faz piada em reunião, pede pizza para todo mundo às 22h e te deixa pegar reembolso de táxi quando você trabalha no fim de semana. A rotina era intensa e sem hora, mas eu trabalhava feliz porque era uma agência famosa e eu estava apenas começando.

Até que um dia o dono da agência, que nunca aparecia no escritório, baixou por lá preocupado com uma grande conta que estava ameaçando ir embora. Foi um dia particularmente estressante para mim. Meu computador (um trambolho enorme e lento desses que não se vê mais nem nos escritórios mais antiquados) resolveu desistir da vida, me deixando na mão justamente na reta final da entrega de uma campanha. Impossibilitada de mandar mensagens ou emails, andei de um lado para o outro da agência resolvendo pepinos à moda antiga, debruçada sobre mesas e computadores alheios.

O dono, sentado em sua redoma de vidro, me observava à distância sem que eu desse importância. Ao final do dia, sentada na minha baia, com o problema do meu computador jurássico momentaneamente resolvido, fui surpreendida pelo tal dono em pé ao meu lado. O homem alto e corpulento gesticulou para que todos se aproximassem. Eu fiz menção de me levantar para me juntar ao grupo em sua frente, mas ele tocou meu ombro indicando que eu deveria permanecer sentada.

Nos quinze minutos que se seguiram, ele falou, aos gritos, sobre como a agência não ia bem por causa de gente como eu.

"Eu te vi hoje, menina, andando de um lado para o outro, conversando aqui e ali. Não sentou a bunda na cadeira cinco minutos! Para trabalhar aqui não adianta ser só bonitinha não, viu? Tem que dar duro!"

Apesar da minha pouca idade e experiência, eu não chorei. Enquanto ele proferia seu discurso supostamente motivacional, me concentrei nos rostos da plateia, um grupo de homens e mulheres, todos mais velhos e experientes do que eu, com melhores salários e mais responsabilidade. Em suas expressões, detectei um misto de pena e alívio. Pena pela ciência da injustiça em andamento, alívio por não serem eles os escolhidos como bode expiatório da vez.

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Meu chefe legalzão, aquele das piadas e da pizza, foi demitido uma semana depois. Mas sua saída da agência não envolveu nenhuma humilhação. Eu permaneci por lá mais seis meses, trabalhando na mesma intensidade e sofrendo com frequentes intimidações, comentários irônicos e constrangimentos vindos desse dono que, dada a situação financeira da agência, passou a aparecer com mais frequência.

Quando entreguei minha carta de demissão, porque tinha arrumado um emprego em outro lugar, me ofereceram um aumento de salário para que eu ficasse. Agradeci e recusei. Não era muito, mas mesmo que fosse, não valia a pena.

Eu adoraria dizer que essa foi a única vez que me senti diminuída e perseguida no ambiente de trabalho. Alguns anos depois, porém, me vi na mesma situação. Com um cliente absolutamente descontrolado, gritando e gesticulando numa sala de reunião lotada. Eu queria responder, defender o trabalho que tantas pessoas tinham participado para entregar, mas minha chefe —também mulher— me aconselhou do contrário. "Deixa ele. Ele precisa dar o show dele. Depois passa."

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