Só haverá democracia se Maduro deixar poder

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inseriu uma dose importante de pragmatismo em sua política externa ao declarar que não reconhece a vitória eleitoral proclamada na Venezuela pelo ditador Nicolás Maduro, seu aliado de longa data.

Entre as idas e vindas em seu discurso sobre o regime de Caracas, a afirmação de quinta (15) evidencia que o petista percebe o desgaste interno que limita a tolerância de seu governo às aventuras autoritárias do chavismo.

"Ainda não [reconheço Maduro como vitorioso]. Ele sabe que está devendo explicação para a sociedade brasileira e para o mundo", disse, voltando a cobrar em seguida a divulgação das atas das eleições fraudadas de 28 de julho.

A declaração —mesmo que acompanhada de hipóteses mal fundamentadas, como promover novas eleições ou formar uma coalizão— indica que Lula se aproximou da linha profissional do Itamaraty, em detrimento dos arroubos ideológicos de seu partido.

Não há dúvida de que a posição brasileira engrossa consideravelmente as pressões internacionais sobre Maduro. Intencionalmente ou não, também não deixa de ser um mea-culpa pela confiança depositada nos compromissos do líder chavista de promover eleições justas e transparentes.

Afinal, o Acordo de Barbados, afiançado por Brasil e Estados Unidos em novembro de 2023, foi rasgado ao longo do processo eleitoral —que culminou na proclamação de uma vitória inverossímil por um órgão subserviente.

Depois de anos de vista grossa ante as atrocidades do arbítrio de esquerda, a inflexão do petista é bem-vinda, embora insuficiente para sanar a corrosão da credibilidade da diplomacia brasileira.

Será desafiador o manejo das relações bilaterais enquanto Maduro insistir na sua farsa. A Venezuela não é um país com o qual o Brasil possa deixar o diálogo, como se observou sob Jair Bolsonaro (PL).

Nesta sexta (16), Lula teve de recorrer a contorcionismos de retórica para negar, mais uma vez, que o país vizinho vive sob uma ditadura. O regime chavista, em suas palavras, "tem viés autoritário" e é "muito desagradável".

Resta esperar que eufemismos do gênero facilitem entendimentos que viabilizem o objetivo crucial para toda a região —reconduzir pacificamente a Venezuela à ordem democrática.

Tal cenário depende necessariamente da saída de Maduro, que por ora atua como se não mais quisesse camuflar sua tirania.

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