Imprecisões e ausências na cartilha evangélica do PT

O lançamento da "Cartilha Evangélica: Diálogo nas Eleições" é um gesto corajoso do PT e merece ser reconhecido como mais um esforço de aproximação dos eleitores evangélicos. O documento é um conjunto de conselhos para os candidatos do PT sobre como dialogar com o segmento evangélico. Nesse sentido, assinalo algumas mudanças positivas:

Primeira: o reconhecimento de que a presença evangélica nas periferias não é uma concorrência ao partido. Em rodas de esquerda, não é incomum tentar explicar a saturação de igrejas evangélicas nas periferias por conta da ausência do Estado. Corretamente, a cartilha deixa claro que as igrejas são provedoras de espaços de socialização e desenvolvimento humano nas periferias. São parceiras, e não concorrentes.

Segunda: o abandono das categorias consagradas pela Teologia da Libertação para tratar de assuntos religiosos. Isso fica evidente na opção por não utilizar o termo "pobres", expressão cara aos teólogos da libertação, apoiadores do PT desde sua fundação. Percebeu-se que o pobre sabe que é pobre, o que ele quer saber é como deixar de ser pobre. A cartilha aponta que "a fé evangélica tem o foco na transformação pessoal e tem como consequências, entre outras, um envolvimento comunitário e a busca por melhora de vida".

Há algumas imprecisões e ausências de temas na cartilha que podem fazer com que ela não cumpra seu objetivo: ajudar candidatos do partido a dialogar com o segmento evangélico. Importante frisar: dialogar com evangélicos que rejeitam o PT. Há um grupo minoritário que vota no PT ou, mesmo não votando, não vê o partido como uma ameaça à sua fé.

Destaco a seguinte imprecisão na cartilha: é feita a citação do teólogo H.E. Fosdick: "Todo fundamentalista é conservador, mas nem todo conservador é fundamentalista". Ao falar em evangélicos fundamentalistas, o alvo da cartilha são evangélicos capturados pelo discurso antidemocrático da extrema direita. O problema é que muitos evangélicos conservadores referem-se a si mesmos como fundamentalistas, no sentido de que aceitam os fundamentos da fé cristã presentes na Bíblia. Seria melhor ter sido direto, o que criaria menos ruído na comunicação.

Da imprecisão, passo à ausência: os evangélicos que integram o PT desde sua fundação e que compõem os núcleos estaduais são conservadores? São progressistas? Os termos "progressistas" e "esquerda" não aparecem na cartilha. Evangélicos influenciados pelo bolsonarismo bateram, durante os últimos anos, na tecla de que "cristão não pode ser de esquerda". Se o objetivo da cartilha é ajudar os candidatos a enfrentar as objeções ao PT, essa questão precisava ser respondida. Dá a impressão de que o PT está escondendo que é de esquerda. A própria cartilha menciona a importância de falar a verdade. Era importante explicar, sob o ponto de vista do partido, por que ser de esquerda não é incompatível com a fé evangélica.

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