Invasão da Ucrânia obriga Rússia a desocupar mais uma região

Uma semana após sofrer a primeira invasão militar desde que os tanques de Adolf Hitler cruzaram as fronteiras soviéticas em 1941, a Rússia ainda tem dificuldades para conter a ofensiva da Ucrânia contra uma pequena área no sul do país.

Nesta segunda (12), o governo de Belgorodo determinou a retirada de ao menos 11 mil pessoas de parte daquela região, vizinha à ucraniana Sumi, de onde as forças de Kiev saíram para o ataque na terça passada (6).

Antes, 121 mil moradores de Kursk, imediatamente a oeste de Belgorodo, haviam recebido a ordem para sair de suas casas. Ao menos 12 morreram e 121, ficaram feridos. As regiões estão em estado de emergência, e duros combates continuam ocorrendo, admitiu o Ministério da Defesa.

Segundo o presidente Vladimir Putin disse nesta segunda, em uma reunião de seu Conselho de Segurança com governadores de regiões fronteiriças, o objetivo da ação é "desestabilizar a Rússia" e melhorar sua posição em eventuais negociações de paz. "O inimigo receberá uma resposta à altura", afirmou, dizendo que as perdas ucranianas estão "aumentando dramaticamente".

O governador de Kursk, Alexei Smirnov, acusou sem apresentar provas os ucranianos de usar armas químicas na região. Ele afirmou que Kiev ocupou 28 vilas fronteiriças e avançou 12 km. Neste momento da reunião, Putin o interrompeu e disse para que reportasse apenas acerca das condições sociais e econômicas de Kursk, deixando detalhes da situação para os militares.

Já o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse nesta segunda que seu país controlava cerca de mil quilômetros quadrados de território russo na região de Kursk —o equivalente a dois terços da cidade de São Paulo. Não é possível verificar a afirmação de forma independente.

A invasão ocorre sob manto de extremo sigilo, e só foi admitida por Zelenski no sábado (10). Ele disse que seu objetivo é o de pressionar a Rússia, sem estabelecer um alvo preciso, e ao longo do fim de semana autoridades ucranianas falaram a diversos meios de comunicação de forma reservada a mesma coisa.

Segundo elas, o foco é humilhar Putin e desestabilizar seu governo, espelhando o motim de mercenários do Grupo Wagner contra a cúpula militar que foi debelado em dois dias, em junho do ano passado.

Nesta segunda, Zelenski voltou ao assunto. "A Rússia precisa ser forçada a fazer a paz se Putin quer tanto lutar. Ela levou guerra aos outros, e agora ela voltou para casa", disse.

Ninguém sabe quantos soldados estão envolvidos na ação, que é apoiada por tanques, blindados e, segundo avistamentos esparsos registrados em redes sociais, até aviões de ataque. A Rússia falou em uma força de mil homens, mas as tais autoridades anônimas ucranianas dizem que são milhares.

Seja como for, se antes havia incursões através da fronteira, principalmente em Belgorodo, o que se vê agora é uma invasão de fato —algo que não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial em território russo.

Os combates parecem concentrados em torno de Sudja, cidade que serve como entroncamento final dos gasodutos russos rumo à Europa. Mesmo com a guerra e as sanções ocidentais, países do continente compram cerca de um quarto do que consumiam antes do produto, e Moscou paga pedágio a Kiev para o trânsito pelo território.

Isso dito, não há evidência de qual seria a vantagem tática para os ucranianos se tomassem a cidade: se quisessem interromper o fluxo de gás, bastaria destruir o duto em suas próprias terras. Assim, o componente psicológico da ação é o que se impõe.

A ofensiva veio num momento de grande fragilidade da Ucrânia, com avanços mais consistentes dos russos na ação para tentar capturar os cerca de 40% da província de Donetsk, 1 das 4 que Putin anexou ilegalmente em 2022, que ainda estão sob controle de Zelenski.

A situação por lá não melhorou desde a invasão, sugerindo que não faltam tropas para o Kremlin —algo que coloca, para observadores mais sóbrios em meio à euforia ocidental com mais um vexame russo, em perspectiva a sapiência da ação ucraniana.

Eles têm dúvidas acerca da lógica de jogar suas melhores forças para uma ação que, fora o evidente impacto midiático para provar sua eficácia em combate, pode não ter grande valor estratégico. As linhas de frente ucranianas já sofriam de anemia profunda, segundo relatos do próprio governo em Kiev.

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